EU QUERIA A PAZ

By Tiago Ferreira - 27.12.15

Nunca fui bom para dizer que preciso de alguém. Eu simplesmente cansei de achar que amo alguém ou que alguém me ama. Sei que meus assuntos são verdadeiramente chatos e meu olhar não consegue mais segurar ninguém. Será que eu realmente preciso implorar a atenção das pessoas que eu gosto? Não sei mais qual é a consistência do carinho...

Eu queria a paz

Não quero que me perguntem se preciso de um abraço. Não preciso que perguntem se estou bem. Não desejo ser lembrado de vez em quando. Eu preciso mesmo são das verdadeiras atitudes. Sobrevivi até aqui lutando contra leões, atravessando grandes desertos e derretendo icebergs gigantescos e não tenho a habilidade de cobrar atenção de quem deveria saber o que fazer. Não estou sozinho, mas, com certeza, estou desamparado e o que antes era solitário agora nem a solidão sente mais.

Eu queria a paz

Eu queria a paz, mas a ânsia é firme e me induz a afogar a revolta em palavras que trazem consigo um leve tom de melancolia. Expulsei para longe o saudosismo e excomunguei a saudade de quem roubou de mim preciosos minutos de tristeza e alegria. Eu sei que não posso deletar minhas lembranças, mas aqui no fundo do baú, com certeza, não é o lugar apropriado para depositá-las. Continuarei  escrevendo de peito aberto todo o tipo de sentimento guardado e mostrando a todos qual a influência da presença de pessoas na minha vida, pois sei que alguém, em algum lugar, me dará a devida importância que dei a certos "alguéns" que não souberam e/ou não conheceram a reciprocidade. Não quero ter que usar a hipocrisia para vencer o rancor e não desejo alimentar minha razão de viver com a mais pura mágoa, porém me permito sentir dor. 

Mais uma vez afirmo; me sinto desamparado. 
Como diz Álvaro de Campos no poema "Datilografia": "[...] Temos todos duas vidas; a verdadeira, que é a que sonhamos na infância, e que continuamos, adultos, num substrato de névoa; a falsa, que é a que vivemos em convivência com outros, que é a prática, a útil, aquela em que acabam por nos meter num caixão..."

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