3 FASES DA MINHA ESCRITA

By Tiago Ferreira - 8.4.18


Comecei a escrever desde meus onze anos de idade e como autor já passei por diversas fases de escrita que foram apresentadas ao público por intermédio de três projetos pessoais na internet que seguem a seguinte ordem cronológica:

My Days - 2010
Desencantos e inquietações da adolescência e um jovem que está descobrindo a viver.

Um Anacrônico - 2012
Enfatização de sentimentos obscuros e melancólicos e não contentamento com a vida que levava e a dramatização da sua própria existência.

Limoções - 2015
Estreitamento de laços com a natureza e com a espiritualidade, autoconhecimento e aceitação de si no mundo em que vive e a apresentação da harmoniosa maneira de se viver a vida.

2010 - "MY DAYS" - TIAGO LIMA

Lágrimas

Quantas vezes eu segurei minhas lagrimas só para eles não debocharem de mim, quantas vezes eu os observava “felizes” com seus grupinhos, quantas vezes eu quis fazer parte de tudo aquilo, quantas vezes que eu me isolei, quantas foram as vezes que eles me isolaram, quantas foram as vezes que não pude ser eu mesmo, quantas foram as vezes que eu imaginei um dia fazer parte deles, quantas vezes faltou coragem para dizer algo, quantas vezes eles falaram de mim, pisaram em mim, me xingaram e quantas vezes eles colaboraram para que eu hoje me tornasse o que sou?
Tudo o que

Tudo que sou,
Tudo o que eu era
Tudo o que pensava ser
Tudo que querem que eu seja
Tudo o que nunca fui
Todos os medos
Todos os pavores
Todos ao meu redor
Sujo
Fraco
Feio
Gordo
Gay
Pastorzinho
Indesejado
Tudo que vivo
Tudo que vivi
Tudo que viverei
Tudo que ouvi
Tudo senti
Dói

Costumo dizer que a fase "My Days" é o momento da minha vida em que começo a criar coragem de sair das sombras para conseguir falar. Estava eu entrando na adolescência e sem ter amigos, sem me encaixar. É aquela típica história do bulliyng que nunca se torna um clichê. Era eu um jovem tímido, sem coragem, sem amigos, sem apoio dos pais e começando a descobrir o egoísmo do mundo. Esse era o momento em que eu começava a me aprofundar nos questionamentos referentes a minha exclusão dos círculos sociais. Foi por começar a questionar e a desejar socorro que fui tentar escrever. Mas, talvez infelizmente, meus questionamentos estavam distantes de serem esclarecidos nesse período e o meu pedido de socorro ainda não ecoava o suficiente para ser ouvido.

Sempre digo que a fase "My Days" não é tão diferente da fase "um anacrônico" porque as duas carregam mensagens sombrias e dolorosas demais.

2012 - UM ANACRÔNICO - TIAGO LIMA

"submerso

Se eu conseguisse não ser eu mesmo e tudo fosse diferente talvez seria melhor. Mas se eu me encontrasse na rua diria tantas verdades porque no momento mal consigo ter forças para respirar. Quando penso em desistir partes de mim morrem e sinto como se estivesse diluindo. Toda a minha capacidade de continuar tentando se foi e desde então vivo como se estivesse submerso no mar das dúvidas. Continuo o mesmo só que agora estou quebrado e cansado. A maioria das pessoas não enxergam que apenas uma palavra pode matar. As pessoas não percebem que o coração partido tem um poder negativo. E eu continuo aqui submerso e não voltarei tão cedo. Será que alguém já sentiu isso antes? Eu pelo menos nunca me senti assim, até agora. As pessoas velejam pelo mar das dúvidas, mas uma hora sempre naufragam. E eu continuo aqui submerso e cada vez mais fundo. Procurar as respostas parece uma tarefa tão difícil no momento. Não posso mais me mexer, não consigo mais me mexer e não quero mais me mexer. Com certeza estou morrendo, mas não quero assumir isso. O mar da dúvida é escuro, frio e consegue destruir toda a esperança. Se eu me importo? No momento não. Talvez me entregar seja o melhor a se fazer. Deixo o mar das dúvidas levar de mim o que ele quiser. Para algo novo nascer, algo velho tem que morrer. E eu continuo aqui submerso e cada vez mais morto. Demorei a perceber que em alguns momentos não temos escolhas e em outros a escolha é o sacrifício. Ficarei aqui e não sairei antes do meu último fôlego ou antes da última batida do meu coração. Quieto, recuado, sozinho, fraco, covarde, medroso, frio, volúvel e demais "adjetivos" que tenho ouvido por aí não me afetam mais. E eu continuo aqui submerso e cada vez menos eu."

"caindo

Sim, como estou assustado. Comecei um caminho sem fim nesse círculo que criei e pra piorar decidi me esconder debaixo da terra. Eu caí e levantar não está sendo nada fácil. Estou enlouquecendo e cada vez mais rápido deixo de saber quem realmente sou. Onde fui parar agora? Quem sou eu nesse momento? Onde estou? Não consigo parar de cair e ninguém conseguirá me ajudar. Eu não sei se conseguirei vencer, não sei se vou sobreviver e não sei até quando o mundo vai continuar se dividindo. Caí e continuo caindo e o chão ainda está longe. Não vou tentar parar e vou continuar chorando. As belezas que vivi foram todas engolidas pelas dúvidas e medos pelo incerto. Estive bem, estive melhor, estive feliz e agora tudo isso se perdeu. Essa força é maior que eu. Isso é algo maior que eu. Cansei de lutar contra o meu possível eu. Cansei de lutar. Cansei de pensar que tudo vai melhorar. Sabe, acho que me entregar será o melhor que posso pensar em fazer."

Enfim chego no momento mais difícil da minha vida: o auge da minha adolescência. Esse é o momento em que mergulho de cabeça nos questionamentos e saio de vez da minha zona de conforto. Na fase "um anacrônico" crio voz por intermédio da escrita e desenvolvo um constante desejo de vingança baseado em tudo e em todos que me fizeram sentir dores.

Aqui os meus sentimentos entram em um circulo vicioso entre a coragem e o medo, entre o reerguer e o permanecer caído, entre o desistir e o continuar. Foi exatamente nessa fase que fui - pela primeira vez - vitima da depressão. A obscuridade era o meu refugio, enquanto que a escrita me anestesiava as dores. Mesmo tendo a possibilidade de desenvolver alguma espécie de relação interpessoal, sempre preferi continuar solitário. Aqui eu comecei a acreditar que algumas pessoas demonstravam interesse por quem eu era - porque parecia interessante ser amigo do "rapaz depressivamente descolado" ou por simplesmente sentirem pena de mim. Dentro dessa fase fui tratado feito louco, feito uma bomba relógio, feito um rebelde sem causa e dentre diversas outras coisas.

A fase "um anacrônico" é o momento especifico de rompimento com as imposições religiosas dos meus pais e é quebra inesperada dos parâmetros que me obrigavam a tentar ser o jovem perfeito. Aqui comecei a fumar, a beber, a tirar notas baixas e a caminhar para o mais distante das projeções que me rodeavam e dos meus próprios sonhos.

2015 - LIMOÇÕES - TIAGO FERREIRA

Estações

Se meu tempo de florescer
Não coincidir com a minha vontade de viver Quero morrer para aprender a respeitar
O tempo de cada coisa
Que eu seja florido
Ou então que seja seco
Em cada estação da minha vida
Que eu consiga ser a verdadeira Singularidade da natureza viva
Para que eu consiga entender as passagens da minha vida
O tempo precisa me ajudar a crescer
Para que eu seja forte e estável
Preciso aprender a fertilizar o solo da minha vida
Para que eu consiga dar frutos
Preciso aprender a me defender de toda erva daninha
Eu poderia só crescer
Mas não consigo florescer
Sem aprender cada significado
De cada estação da minha vida
Que eu caia no outono
Que eu morra no inverno
Que eu reviva e floresça na minha primavera Que eu tenha todas as minhas cores vivas no verão
Tempo, me ajude a viver cada uma das minhas estações.
O ontem no ontem

Pra que viver preso no passado
Se a vida não parou?
Pra que viver magoado ou ressentido
Se a jornada só continuou?

O meu maior sucesso foi conseguir
Por fim em melindres do passado
Que por muito tempo me assombraram Fizeram de mim um ator horrível

Uma das minhas maiores conquistas
Foi aprender a deixar o ontem no ontem
E tenho que dizer
Não será possível bem viver
Se o passado for presente
E o presente não tiver valor.

EU ME VENCI! TENHO VENCIDO A ESCURIDÃO! Esse é o sentimento que basicamente permeia a era Limoções. Ainda tenho os meus conflitos e indagações, mas meus questionamentos tiveram um fim. Dentro desse momento me sinto resolvido. É óbvio que continuei humano e - fazendo uso dessa condição - continuo sentindo toda espécie de coisas. Nessa fase me resolvo comigo, me encontro, me moldo e entrego ao tempo todos os meus tormentos. Aqui é fácil vencer os limites, escalar as fortalezas e simplesmente viver.

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