INDIGENTE

By Tiago Ferreira - 18.6.18


Quem sou eu nessa multidão?
Não pareço mais que normal
Se hoje qualquer um faz poesia
Não existe mais nada de especial
Só sou mais um carinha
Que vive como vitima
Enquanto busca o protagonismo
Que o branquinho detém
Enquanto sonho com o que não tenho
Vivo a melancolia
Desse roteiro bucólico
Que rege a vida do preto

Preto, escuro, dark
É a história de quem existe além
Coexiste com o amargo da sombra
Ou que convive com o olhar de outrém
Corre, sofre, engole
É a vida de quem anula seus sonhos
Porque precisa comer

Cabelinho cacheado é o caralho
Meu nome é Tiago
Cicatriz, leão, coragem, luz própria
Não me frustrei na minha história
Nasci para ser além das marcas
E aceito as pedras de quem não se viu
E preferiu ficar de olho na minha jornada
O dedo apontado na minha cara
Sempre me mostrou a direção
Nunca fui de ser o que queriam
Mas sempre fui o que temiam
O sentido da minha força
Foi acreditar em mim
A prova disso foi ter chego aqui

Não falo para multidões
Não alcanço além de amigos
Mas prefiro falar com quem escuta
Do que me enfiar num espetáculo
Onde eu falaria com surdos
E minha poesia ruiria
Poeta é caralho
Sou além dos rótulos da vida
Sou muito mais que artista
Sou gente e preto
E pelo menos por enquanto
Me basta o reconhecimento.

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