O QUE NÃO FUI

By Tiago Ferreira - 21.10.18

O que fazer agora?

Eu sempre soube o que fazer. A dor e a insegurança sempre regeram cada um dos meus passos. Eu sempre soube o que dizer. A dura arte de sempre andar armado, sempre foi o meu recurso de segurança. Eu sempre soube viver estando perdido, sempre fui sozinho para onde quis ir. Não sei se estou fazendo sentido, mas não sei mais o que fazer.

A dor ficou lá trás. Não consigo vê-la de onde estou e - eu sei que parece loucura - sinto falta de tê-la ao meu redor. Jamais imaginei que conseguiria deixar meus traumas em algum lugar que não fosse ao meu lado me fazendo sentir terror. Tudo que eu sempre tive como certeza é que eu viveria na sombra da própria loucura, que morreria de tristeza ou que simplesmente seguiria sendo alguém que ninguém quis ser. Não consigo encontrar meus martírios, meus fardos e meus medos. Não sei se deixei em algum lugar, se eles simplesmente foram embora. Não quero acreditar que estou bem. Não posso me dar o direito de acreditar que estou lúcido, feliz ou estável. Alguém - por favor - me mostra onde guardei as minhas angustias.

Meu coração jamais esteve tão inteiro quanto agora e minha busca por algo que fizesse sentido parece ter chego ao fim. Caminhei rumo ao que meus olhos não podiam ver e tomei cuidado para que o meu desequilíbrio não fosse o desequilíbrio de quem esteve ao meu lado. Eu fui aquele que questionou a fé, não quis ficar em pé, se jogou do abismo, foi atrás da dor e matou qualquer espécie de otimismo que se apresentava ao decorrer do caminho. Eu fui aquele que menosprezou meu próprio valor, fui aquele que desprezou a minha própria trajetória e fui aquele que deu espaço para quem quisesse me envenenar atingisse seu objetivo. Eu fui tanto e já senti tantas coisas. Já fui o tentante suicida, já fui o assassino, já fui o fugitivo, o mandante, fui o egoísta, o frio, o amante. Já fui o inimigo, o amigo do inimigo, o falso, o poço de duplicidade e fui aquele que vestia a máscara. Eu realmente gostaria de perder meu tempo aqui escrevendo tudo que eu aparentemente já fui, mas escolhi investir minhas palavras para discorrer sobre tudo que ainda não fui.

Não sei se começo pelo começo ou se simplesmente falo o que está passando na minha cabeça. Ainda fico intrigado com a minha incapacidade de lidar com as palavras, sendo que elas são minhas melhores amigas. Quando sentei para colocar aqui o mar de pensamentos que minha consciência tem me imposto nos últimos dias, temi não fazer qualquer sentido. Escrevo esse texto com muito otimismo, pois ele não traz nada de ruim em sua composição. A evolução da minha poético tem alcançado níveis assustadores. Sinto-me capacitado a falar sobre mim e não sobre as minhas dores. Os males que me norteavam parecem de fato terem dado um tempo para eu ser alguém além da dor. Tem sido importante me sentir vivo e bem sem aliar o meu viver ao sentimento de dor. Não sei se essa fase poderia ser uma nova fase, mas talvez eu saiba que o que vivo agora foi o que eu sempre sonhei.

Só queria conseguir dizer que eu não fui o tempo todo ingrato. Não sei a quem eu digo isso. Não sei se eu deveria dizer isso aqui nessas palavras, mas sinto que tenho que dizer. O rumo dos passos que dei quase sempre me conduziam a lugares, pessoas ou até sentimentos que não faziam qualquer sentido. Hoje me defini como um emaranhado de fragmentos. Não dói mais ser fragmentado, ser remendado, ser pedacinhos e viver por aí na mente de quem jamais permitiu que eu fosse embora. Cuidei de mim e me fiz o que sempre quis ser. Não fui ingrato e nunca fui um derrotado. Estou correndo, estou construindo e estou indo a algum lugar que ninguém quis ir. Sei o que importa, o que faz sentido e sei o que me faz permanecer vivo. Tive a chance de ver fulano ficando louco, beltrano acreditando ser santo. Tive a chance de ver cicrano virando as costas e se transformando em vitima e me dando os créditos do antagonismo dos seus próprios demônios. Eu definitivamente sei o que não fui: um ingrato e derrotado.

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