DEIXEI

By Tiago Ferreira - 20.2.19


Me causei o que queria sentir e me dei o prazer de estar onde queria estar. As decisões que tomei dizem sobre o que me fez inteiro e o caos que rodeou o meu existir faz meus passos parecerem eternos em cada lugar que passei. E o tempo que perdi buscando o tempo que precisava para ser algo além do que poderia ser, me faz parecer tão bem quanto ontem. Me dei o direito de provocar risos e lágrimas, enquanto flertava com aquilo que queria deixar para trás.

Deixei em seu devido lugar tudo que não pude carregar e as lembranças que suportei guardar agora voam para qualquer outro lugar. Minhas decisões foram tomadas ontem, e anteontem eu ainda buscava algo que não sei aonde encontrar. O vento derruba os receios que insisto em manter em pé para tentar me dar a chance de ser aquilo que cultivei, de viver o que sonhei e de abrir os caminhos que ainda não trilhei. Tudo parece intacto desse lado da negação, mas as feridas já não doem tanto quanto antes e o efeito das anestesias que me apliquei parecem ter cessado.

Nada foi por querer e a vida sempre parece ter acontecido por acidente. Que liberdade tive eu para viver se tudo sempre parecia predisposto a acontecer? O cotidiano dramático engessava a vontade do amanhã de florear o hoje com as flores que nasceram nos rastros de lágrimas. Pelo trajeto cercado de olhares, vejo a vida conviver com o tempo. Enquanto peço pela minha insanidade, vejo da janela a loucura coexistir com a paz. Da janela, vejo o medo assistir ao longe as milhares de oportunidades de incutir terror. Enquanto peço pela minha firmeza, vejo o amor conviver com a frieza. O céu parece saber que estou em paz e todas as vitórias que almejei agora são transcritas pela desistência. Abro mão da vitória para estar em paz com a vida. Abro mão da guerra para estar em paz com as palavras. Abro mão dos meus rancores para estar em paz com todos os amores que ainda me esperam.

Mesmo que seja possível ver a tempestade ao longe, estou em paz por ter sobrevivido. Estou entre o céu e a terra sem precisar ser nada além de poesia. Nunca foi por causa do horror de ser, foi pela necessidade de alcançar o que meu coração almejava ter.

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