O VITRINISMO DA ATUALIDADE

By Tiago Ferreira - 22.2.19


Desde que fui apresentado ao mundo da leitura passei a me preocupar com o enriquecimento do meu vocabulário. Gosto de buscar palavras e significados e gosto de acrescentar sinônimos que quase não são utilizados em poemas e escritos. A língua, pelo menos no meu ponto de vista, não pode perder sua capacidade de ultrapassar gerações. Mas o que fazer quando todos ao seu redor parecem desinteressados com relação ao fato de que o mundo tem se tornado cada vez mais monossilábico?

Essa foi a pergunta que me alcançou certo tempo atrás. Não sei se de fato vivo no tempo certo, mas me incomodo muito com a superficialidade dos discursos e com o empobrecimento da língua como meio de diálogo. Já é sabido que as metamorfoses linguísticas e os jargões regionais também formam a dialógica em contextos sociais e culturais, mas será que sabemos ao certo o que tudo isso significa? O mundo parece estar caminhando para a criação de um novo dialeto. A criação de algo mais prático, que não demande tanto esforço mental e nem sequer careça de interpretação. As abreviações, os emojis e as opiniões sem embasamento roubam o espaço da leitura e do pensar. Parece que a língua vai perdendo valor, sentido e significados.

Neste mundo cheio de frieza, imediatismo e abreviações tem se tornado escasso o interesse pela leitura e pelo simples desejo de possuir um livro em mãos. Na era do digital, a única coisa que parece tentar conduzir ao pensar são meia dúzia de produções audiovisuais que surgem pela necessidade de questionamento e pelo desejo do pensar. Ainda vemos as inúmeras tentativas de diálogo levantadas por aqueles que ainda acreditam no poder de fala sendo derrubadas pela maior parcela da população que não está disposta a viver o empoderamento do leitor, do interpretador, do pensador. As pessoas não parecem mais querer ter sobre o que falar, transparecendo uma necessidade sobrenatural de mostrar algo. O vitrinismo da atualidade é vazio e sem valor. Aquele desejo de ter e de compartilhar é cinza e frio.

Desde que fui apresentado ao mundo da leitura passei a ler, a escrever, a fotografar e a criar maneiras de não me perder no imediatismo do mundo superficial em que tenho vivido. Sou colecionador de grandes desabafos, importantes poesias e sou escritor de textos importantes demais para serem abafados pela superficialidade do contemporâneo.

Depois de ver o quão preocupante são os questionamentos que me alcançaram, quero saber a sua visão. Será que é possível viver enquanto a língua morre e a superficialidade cresce?

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