COMO O SOL

By Tiago Ferreira - 11.4.19

Fotografia de Olívia Vieira para o projeto "Abril 30/30" do Limoções.
Se eu conseguisse ver o melhor de mim, talvez não tivesse deixado que me fizessem pequeno. Se eu conseguisse conviver com a minha grandeza, talvez tivesse aprendido a ser grande. Ao desenvolver a minha grandeza, tive que aprender a perder, a me desfazer, a morrer e a reviver. Foi terrivelmente sofrido ter que conviver com a responsabilidade da grandeza. Foi difícil ser grande sem pisar em quem se apresentava preso em sua pequenitude.

E mesmo que das alturas fosse possível vislumbrar as flores que brotavam no chão, eu não havia sentido o gosto saboroso proporcionado pelo vento que move as nuvens. Tive que conviver com o fardo que me fora estipulado, fiquei intrigado com respostas para perguntas que jamais me foram feitas, me encolhi com medo de soar como um gigante prepotente, como alguém que não sabia de fato o diferencial em ser grande. Eu fiz barulho, balbuciei tentando me convencer a ficar em pé. Eu derrubei lágrimas, chorei tentando aceitar que me fazer pequeno era o único caminho viável a se trilhar.

Quando fiz silêncio pude enxergar a solidão que envolve a caminhada apresentada pela grandeza. Foi no meu silêncio que me fiz entender, me fiz sentir, me fiz viver. Eu poderia inventar dezenas de máscaras para justificar meu período como um gigante fracassado, frustrado e impotente. Eu poderia dizer meia dúzias de palavras que tentassem me convencer de que fui pequeno porque quis ser. Eu poderia ter desistido de viver a grandeza que me fora atribuída ao decorrer de cada caminho que trilhei, mas escolhi conviver com o resto do universo como o sol.

Muitos já me viram brilhar, já sentiram o calor que fluiu do meu interior e já tiveram a chance de aproveitar os raios de esperança que emanaram enquanto digeria a desgraça. Eu existo como o sol e tenho o poder de ser o quão grande quiser. Eu brilho como o sol e tenho o poder de brilhar em cada lugar que pisar. Existo na pequenitude da grandeza que cultivei e não me interessa mais vestir uma falsa modéstia, me diminuir para orbitar outros planetas e deixar de brilhar para fazer com que outros astros ocupem o meu lugar. Como o sol, estou no centro do universo da minha dependência. Existo como a vida, como as estrelas, como a poeira, como um gigante que tem consciência da sua grandeza.

  • Compartilhe:

VEJA TAMBÉM ESSES DAQUI

0 comentários