FOTOGRAFAREI AS TARDES DE SOL

By Tiago Ferreira - 28.6.19


Depois de conseguir olhar nos seus olhos, pude encontrar todas as verdades que você ocultou de mim ao longo dos anos que passamos fotografando as tardes de sol. Talvez tenha chego o momento de eu conhecer tudo aquilo que você não quis mostrar, ou talvez seja a hora exata de nos conhecermos de verdade. O tempo passou e as feridas cicatrizaram, as palavras não ditas foram digeridas e as lágrimas derrubadas já secaram, então ainda tento compreender o real motivo de eu me sentir infringindo sua liberdade toda vez que me aproximo das verdades que você me privou.

Sob a meia dúzia de palavras que você me disse, pude perceber que ainda te faço lembrar todos os crimes que cometi. As tardes ensolaradas, as manhãs geladas e as noites sem fim parecem não ter tanto poder diante das mudanças que você optou por priorizar em cada passo que decidiu dar. Sua cumplicidade ainda está fresca na minha memória. Ainda me lembro dos crimes que cometemos juntos, das vezes que infringimos as nossas próprias leis para continuarmos trilhando o mesmo caminho. Eu vi você tocar as minhas feridas e filmei todas as vezes em que você fotografava as minhas cicatrizes. Tivemos tempo de desfazer os conceitos que estabelecemos, tivemos tempo de derrubar as paredes que construímos, mas não tivemos tempo de nos conhecermos de verdade.

Eu tenho orgulho do caminho que trilhamos juntos e não posso esquecer jamais que seus olhos verdes diziam sobre a cumplicidade que havíamos vivido enquanto construíamos as lembranças que eu guardei com carinho. Você está livre para ir, assim como está livre para não voltar. Me afoguei na dependência que criei de você, me corrompi na importância que centralizei em você, me enfraqueci na força que depositei nas suas palavras, me fiz pequeno depois de construir a grandeza da nossa estrada - e agora tudo já não passa de lembranças, de memórias. Você pode ir pelo caminho que escolheu, pode escrever que superou, pode dizer que não errou, pode evoluir, pode não olhar para trás. Você pode seguir acreditando no que escolheu, pode deixar a câmera no armário, nossos arquivos na nuvem e pode deixar que eu fotografarei as tardes ensolaradas.

Eu já tive a chance de tocar os céus, sentir a terra, fotografar a copa das árvores. Já assisti ao nascer do sol, já fotografei flores e já aceitei a sua ida. Quebrei-me em pedacinhos para que as palavras que engoli jamais consigam te alcançar. Quebrei-me em pedacinhos para me fazer quieto. Está tudo bem, você não precisa da autorização de ninguém para ir. Eu só queria dizer que estou feliz de poder te ver seguir por onde quis.

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