desCONFIANÇA

By Tiago Ferreira - 11.8.19


Quantas foram as tentativas que deixei de tentar por ter medo de fracassar. Nesse mundo cheio de loucura, eu fui dando cada passo cheio de cautela, cheio de cuidado. Encarei cada obstáculo com toda desconfiança que pude e fiz de cada espinho uma nova maneira de resistir ao horror. Me acostumei com a tarefa exaustiva de ter que conviver com a incerteza, assim como já não me sinto mais refém da tristeza. Eu vi o tempo discorrer a história que sonhei viver, assim como transcrevi os amores que não amei. Prescrevi os remédios para as minhas dores, enquanto aceitava a possibilidade de deixar de lado o ódio que já cheguei a sentir pelos causadores das agonias que vivi.

Ao inverso dos planos que não planejei, eu consegui sorrir para os traumas. Cutuquei minhas próprias feridas, me fiz resistente para viver o padecer me proporcionado pela escassez de esperança. Fui meu próprio professor, fui meu próprio amor, fui meu escritor favorito, fui minha própria inspiração, fui um, fui um milhão. O tempo me deu espaço para ser aquilo que não almejei ser, me deu a chance de tecer sonetos de amor, histórias de amor, me deu espaço para ser triste, para ser descaso.

Fui batalha, fui guerra, fui vitória. Tentei guerrear com a vida, contei muitas mentiras para desistir de viver, fui me reduzindo a nada para deixar de viver as surpresas da estrada. Fiz guerra contra meu próprio sorriso e já cheguei a sabotar as alegrias que cultivei. Tive que me acostumar com as possibilidades que me foram atribuídas pelo direito de ser vida. O esplendor da alvorada até me ajudou a aceitar que só vive quem já chegou a pensar em desistir de caminhar.

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