FALSÍDIA

By Tiago Ferreira - 5.9.19


A falsidade tem um gosto único, uma característica própria e faz com que eu sinta vontade de vomitar. Mais uma vez eu tive que engolir a duplicidade, tive que me fingir de cego, tive que me fazer de surdo e tive que alterar o tom das minhas palavras. Constantemente me sinto de frente com a duplicidade e minha consciência não me permite seguir o caminho ileso. Estou mastigando a sonsice, estou sentindo as notas de maldade, consigo sentir cada ingrediente que compõem a mentira. Não sei se dói o fato de que estou me obrigando a comer veneno, a dançar músicas que não escuto e a conviver com a dissimulação alheia. Estou no centro da inverdade que não semeei, mas não creio ter o direito de trazer para a roda a verdade que somente eu vejo, somente eu escuto, somente eu acredito e somente eu sinto.

Dá para sentir o gosto da maldade, assim como é possível sentir os frutos das inverdades. Estou no centro da impotência, brigando constantemente pelo valor da minha existência. Estou no centro da roda solitário, sentindo raiva, sentindo medo, me sentindo pressionado. Quem governa o mundo que assisto daqui sabe que não tenho o poder de dizer o contrário das mentiras que venho me obrigando sustentar. Cheguei a torcer para que o veneno conseguisse consumir cada parte do meu corpo, conseguisse descaracterizar minha integridade, conseguisse me desconstruir, me desmontar e me tirar o peso da honestidade. Não estou cansado de estar firmemente apegado ao que acredito, mas não sei ao certo se meu corpo conseguirá acompanhar a força que minha mente supostamente acredita ter. Estou sustentando inúmeras verdades, inúmeras coisas que talvez somente meus olhos são capazes de ver.

Não estou machucado, nem triste, nem cansado. Não me sinto perdido, não me sinto encontrado, não sinto nada além do gosto amargo em minha boca. Minha memória tem brincado comigo, tem me feito viajar por caminhos não quistos, mas não sei se consigo conviver com a dualidade da minha esperança. Não sei se posso seguir com o plano, com a proposta, com a história que escrevi até aqui. Não tenho mais que três linhas de palavras para dizer, mas quem vai acreditar em alguém que parece bem com as mentiras, parece cego diante da inverdade e escolheu se fingir de sonso para passar despercebido pela maldade que não cultivou? Dentro da desimportância que me cerca, eu ainda tenho valor? O veneno que tenho consumido me fez um fantoche da maldade que repudiei?

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