CARTA PARA OS DIAS DE CANSAÇO

By Tiago Ferreira - 26.9.19


Fazer guerra ou forjar a paz? Gritar bem alto ou fingir que o silêncio faz bem? Pensar para fazer ou deixar que o impulso guie os passos? Manter o ritmo ou se entregar ao descompasso? Mostrar a face ou se esconder atrás das inúmeras máscaras? Ser despojado ou passar despercebido? Mostrar que sabe ou se fazer de desentendido? Deixar de questionar ou inundar o mundo de questionamentos? Temos que escolher?

Talvez todo passo que foi dado até aqui tenha sido cobrado. Talvez cada luta vivida já tenha sido recompensada, mas e se não conseguirmos perceber o óbvio ou se nos perdemos em meio ao que não é sensível aos olhos, será que fica impossível seguir em direção ao que não foi programado? Aparentemente não existe problema em sentir que estamos constantemente em queda livre. Não parece um problema que nos comportemos como crianças que estão aprendendo a andar. Parece que viver é uma constante de tombos, de assombros, de medos e de ressalvas. Mesmo que todos os porquês pareçam não possuir respostas, não tem parecido errado não saber o que falar, não saber se aquietar, não parar de chorar, de sentir medo e de ter toda espécie de receio. Se a vida pode ser resumida a uma estrada cheia de obstáculos para quem está deixando de engatinhar, está tudo bem em sentir cada sensação provocada pela tentativa.

Se toda palavra dita até aqui foi justamente absorvida por toda orelha que as interceptou, não tem parecido errado seguir falando bem alto as sensações que a pressão tem causado para quem ainda tem medo de alçar voo. Cada coisa que foi vivenciada teve a chance de ser memoriza, cada caminho trilhado teve a chance de ser memorizado e cada lágrima derrubada teve a chance de umidificar o ar seco, de fazer florir o botão de flor que você cultivou. Está tudo bem em se sentir afogado no silêncio das palavras que não conseguimos dizer, pois o que ficou entalado na garganta será reabsorvido pela experiencia, pela tentativa, pela persistência. Se o silêncio é uma opção viável, então que seja o mesmo a nos encher de coragem. Escreve e manda, escreve e apaga, fala sozinho, fala na cara e deixe que o vento leve as preposições para os seus devidos lugares. Onde a fala foi devidamente valorizada, não tem asa podada que impeça seu locutor de voar.

E não se veja na obrigação de santidade, pois ninguém vai te canonizar. Sua vida será vilania para quem não vê você como um todo, assim como a luta de muitos não possui valor para quem não os viu cultivar o amor, celebrar o amanhecer e os ver diante do espelho. Está tudo bem em conviver com perguntas sem respostas, assim como não tem problema em fechar as portas para quem você escolheu deixar de fora da sua história. A pressão, a paz, o medo, o terror, a frieza, a ternura, a guerra, a persistência são possibilidades, então não se arrependa de escolher. Mesmo que você escolha não fazer qualquer escolha, seu mundo existe por você.

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