NÃO TENTE OPRIMIR

By Tiago Ferreira - 8.9.23

Não consigo imaginar situação pior que passar uma vida em repressão. Se quando somos repreendidos quando crianças dói e incomoda, imagina passar uma vida preenchendo locais que repudiam a sua simples existência. Quando a gente acredita na diversidade, fortalecemos a pluralidade, nosso coração imerge em obras primas e raras. Cada um é aquilo que se formou, que se moldou, que se declarou e que se estabeleceu. E mesmo que tudo pareça devidamente encaixado, sempre existem possibilidades para além. Não consigo imaginar o oposto da liberdade de ser aquilo que se é, mas está marcada em minha pele a repressão.

Escrita em minha história como se tivesse em linguajar de livro didático, está o fruto daquilo que foi repreendido. Hoje sou didático quando o assunto é opressão e repressão (já iremos definir as duas palavras), pois consigo dialogar, acolher e rastrear. Nós que estivemos em determinados locais de sujeição, sendo expostos a feridas crônicas, trazemos o didatismo - cada um ao seu modo - como ferramenta da identificação. Ser didático não é sinônimo de construir diálogos passivos e compassivos, não sendo também a abertura para animosidades desnecessárias. O "ser didático" pode ser eloquente, pode ser simbólico, pode ser em sussurros etc.

Quando se escolhe como é e como se constrói essa didática? Pergunta existencial, mas política e sociológica também. Muitos de nós não temos a chance de escolher, e não ter a chance de escolher é uma opressão. Muitos de nós jamais terão a chance de construir algo simbolicamente material e se atribuir como proprietário, então estamos falando de uma opressão? O fato é que não podemos insultar nossa inteligência. Já sabemos sobre os sistemas capitais de funcionamento do mundo moderno e a quem está garantido o local de opressor e de oprimido. Esse parágrafo me pareceu necessário para retomarmos alguns conceitos didáticos da máquina social, pois poderíamos cair na armadilha de que nossos pequenos movimentos diários não estão transpassando essas políticas, essas formações, essas filosofias, etc.

Enquanto movimento multilateral ou unilateral com a proposta de suprimir, seja para moldar e/ou desencorajar grupos, ações e/ou movimentos, a opressão está intrinsecamente atrelada aos movimentos da violência, sendo a culminância da descaracterização de humanos e humanidades, por exemplo. Dentro da opressão ainda visualizamos aquelas que o próprio Estado proporciona na perseguição sistemática a grupos específicos e na conivência ao extermínio de povos originários. Como fenômeno culminante de determinantes multifatoriais, a repressão descaracteriza pessoas, personalidades, lutas, movimentos e etc. Também aparece atrelada ao castigo, ao ato de repreender, diminuindo a existência de qualidades e/ou potencialidades, enquanto aumenta a erosão de sofrimentos.

Por fim, definimos uma série de coisas. Na primeira pessoa que escreve esse texto, digo sem meandros que ainda temo a metamorfose de opressões do cotidiano e a infinidade de repressões que ainda recairão sobre a diversidade que construí. Também posso falar sobre a minha didática, aquela didática que também toma formas e ferramentas de materialização, pois não asseguro que estarei aqui para dialogar enquanto meu corpo, meu povo e minha gente nascer sabendo o que é opressão e repressão.

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