RENOMEAR O MALOGRO

By Tiago Ferreira - 5.11.23

A estranha mania de querer passar em branco, de querer ser invisível. Não tenho a pretensão de deixar essa mania de lado, mas hoje me questiono as invalidações que coloquei para delimitar o sentir obscuro daquele momento. A palavra buscar circundou cada passo meu. Buscando palavras, buscando morada, buscando o formular da vida. Óbvio que o buscar pertence ao existir, ao ser humano, mas o que foi buscado, procurado e desejado? Desesperança é outra palavra que germinou pelo caminho e deu frutos relativamente importantes. Buscar nomear o malogro é uma tarefa que realizo diariamente desde que reparei pela primeira vez que estou na solidão de mim, sozinho de mim. Não tem sol, não tem pôr do sol, nem amanhecer e esperança que vinguem a solidão do meu próprio eu.

Se temo o meu local e não defino com clareza onde estou, não sou capaz de cativar uma vitória sobre o anonimato. Escrevo para pessoas há anos, tendo como certeza que sou lido por quem precisa das leituras que realizo por aqui. Onde está o anonimato e qual a razão de evidenciar as pinturas opacas? Não preciso contemplar o pôr do sol diariamente e achar o máximo ter encerrado mais dia, assim como não preciso cativar a proposta de que amanhã será diferente. Cativo as minhas vitórias de adulto. Cativo aquilo que somente eu sei que precisou de muita força para ser realizado. 

Se eu pudesse dizer algo sobre o texto abaixo, diria que não faz sentido querer se esconder. Os problemas e as soluções sempre nos encontram, assim como as palavras.

Ainda não estou em casa, ainda não estou voltando para casa e ainda não sei onde a minha casa foi parar. Todo final de tarde contemplo o pôr do sol por uma janela e acabo lamentando a chegada da triste e fria noite. Fui uma belíssima aquarela, mas me tornei um pôr do sol sem brilho, opaco, insosso e quase incolor que prefere permanecer escondido de todos os olhares. Nunca encontrei algo bom o suficiente para me cativar a largar mão do anonimato, e acredito que ser aquela mancha opaca daquela peça antiga de roupa é a sina da minha vida. Sou amigo do vento, porém faz tempo que ele não se importa com a nossa amizade que acabou esquecendo de soprar novas oportunidades. Nunca me dei bem com padrões, mas acabei criando meu padrão de vida que se baseia em se esconder das luzes e vegetar contemplando os ponteiros do relógio. Ainda procuro um motivo, uma razão e um fôlego, mas a vida continuará seguindo seu fluxo eu encontrando ou não. O destino poderia me deixar saber as surpresas do futuro, mas ele está ocupado demais impondo acontecimentos e fugindo da felicidade. Não tenho a quem culpar pela falta de brilho no meu presente, mas tenho mantido a ilusão de que o "amanhã chegará", e assim dou um jeito de não desaparecer. Ainda não estou voltando para casa, mas, todas as noites, meus sonhos me enchem de esperanças tolas. Não estou preocupado com o tempo, pois nunca soube lidar com essa questão cronológica. Hoje tenho dezenove anos, amanhã posso ter trinta, depois de amanhã dez e a minha alma é livre para sentir, sentir a saudade de casa. - (FUI UMA BELÍSSIMA AQUARELA - LIMOÇÕES | 13/12/2015)

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