A ALEGRIA É UM MARCO TEMPORAL

By Tiago Ferreira - 6.11.23

A dor existe para que a arte seja viável? A gente verbaliza bastante sobre a tristeza, assim como escrevo em parágrafos aquilo que me dói, me incomoda. Reparei que aquilo que deriva da alegria é enxuto, é suscinto, é breve. A gente não fala sobre o ser feliz, o estar contente em parágrafos. Não sei ao certo o porquê dessa disparidade, mas sei que ambos possuem valores significativos, mas são experenciados de maneiras diferentes.

Nosso consciente está alerto ao que se refere ao sentimento de dor. Sentimos dor conscientes, com a memória atenta e as possibilidades de reatividade em suas mais variáveis potencialidades. A dor é um sentimento a ser descoberto, digerido, reverberado, fuçado, cutucado e experenciado. Aquilo que nos faz sangrar custa a ser estancado, então nos retoma na memória o conceito de relevante, de peso e medida. Sentir dor é um potencial multifatorial, tanto que não sabemos ao certo que remédio usar para muitas algias. A lista de dor (e podemos usar como sinônimos rancores, remorsos, arrependimentos) é extensa e costuma tatuar, deixa uma marquinha. Não precisa de registro fotográfico, já reparou? Não fotografamos a dor porque estamos dentro dela. Então, mais que um sentimento, a dor é um local.

A alegria é como uma brisa da manhã. Agradável e bem quista, tem tempo determinado de início, meio e fim. Para que ela ocorra, geralmente, grandes acontecimentos precisam ser realizados. Óbvio que isso não se trata de um padrão. Existe quem se alegre pelo simples, que encontra na simplicidade motivos para memorizar. E sobre memorizar o que é feliz, a gente costuma fotografar. A alegria é um marco temporal. Isso parece algo negativo, mas se trata de um acontecimento transitório, assim como a dor. 


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