É TEMPO DE...

By Tiago Ferreira - 29.9.17


É tempo de morte. Agora é a hora de me livrar de todo peso morto. Esse é o momento que enterro os amores não correspondidos, os sonhos que não sonho mais, as lembranças que não me pertencem mais, as perspectivas equivocadas e toda dor que já não dói mais. Agora sepulto o que tentou vir até mim em vida, mas morreu ao decorrer do caminho. Declaro óbito de tudo que eu de fato deixei morrer por não estar capacitado a cuidar e me faço entender que nem sempre minha incapacidade fora autora de mortes lastimáveis.
É tempo de partida. Eu deixo ir o que não quis ficar, permito a partida de quem quis partir e me permito respirar a liberdade. Liberto das correntes do meu querer aquilo que já não me quer mais, que já não me pertence mais e que já não faz mais parte de mim. Dou total livramento a quem não me aguenta mais, não me entende mais, não me sente mais e não me ama mais. Deixo ir a saudade, a fraqueza, o medo, o rancor, a raiva, a amargura, a carência, a dependência e o amor. Me liberto do meu próprio cativeiro para respirar o que perdi enquanto me prendia a tudo que não me queria.
É tempo de reconstrução. Essa é a parte que me posiciono perante o espelho para que, cuidadosamente, consiga ver o que sou. Nesse momento vejo o que sobrou de mim e me coloco em pé para inalar todo o oxigênio de que preciso para me levantar. Não me sinto tão cansado, mas foi difícil chegar até aqui. Há alguns meses atrás parecia ser meu destino continuar desorientado por aí. Parecia mesmo que minha vida fora dada a mim simplesmente para que eu vivesse aos pedaços. Eu não fui vencedor, não fui soldado, não fui poeta, não fui filho, não fui altruísta, não fui qualquer espécie de rótulo que pudessem me dar para me encorajar ou para me pressionar a existir. Eu fui gente e me machuquei. Me entreguei ao que acreditei. Tentei me fazer importante. Me esforcei para ser visto, ouvido e fiz o que pude para ser acreditado. Eu não falhei quando percebi que estava no chão e não conseguia mais levantar. Eu simplesmente errei quando perdi a fé em mim. Quando decidi esperar que alguém me estendesse a mão ou me mostrasse a saída daquele caos. Eu errei quando acreditei que só conseguiria seguir se alguém me dissesse para onde seguir. Eu acreditei que poderia caminhar de mãos dadas com alguém. Eu me superestimei e me vi sendo arrastado pelo chão pelo sentimento imundo daqueles que nos procuram para catar o que sobrou. Explorei sentimentos, corações, olhares, palavras e tudo que pude para tentar me sentir em casa, para conseguir me sentir seguro. Agora somente me vejo nesse reflexo e tenho orgulho de ter sobrevivido. Não é possível sentir arrependimento por ter permitido que também me explorassem. Tudo que tiraram de mim foi bom, foi verdadeiro, foi feito por mim e se não ficou comigo é porque já não me pertencia mais. Cada sorriso que entreguei, cada palavra que formei, cada gesto que demonstrei e todas as vezes que disse amar foram expressões sinceras que saíram de mim para todos aqueles que viram ou não honestidade. Agora é tempo de me obrigar a continuar a andar. É tempo de fazer novos caminhos e de redescobrir possíveis estradas. É tempo de buscar o que for preciso para me fortalecer e, mesmo que continue difícil, preciso acreditar em mim, provar para mim que sou capaz. E quando não for possível caminhar, usarei essa fé que agora consigo sentir para rastejar até alcançar o que for por mim almejado. Não é tempo mais de temer. É tempo de desobstruir o amanhã para que nada e nem ninguém consiga me impedir de crescer, de ser novo.

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