E em nome de toda mentira que me fez ser desacreditado, agradeço por terem me deixado na praia. Não pude morrer fisicamente, mas pude ver morrer o pouco de humanidade que existia em vocês. A mesma areia que envolveu o meu corpo, foi usada para construir as mentiras de vocês. A mesma água salgada do mar que me levava para as profundezas, é a mesma água que recebeu o meu sangue que pingava após os murros e chutes. O mesmo sol que brilhou sobre o meu corpo, é o mesmo que testemunhou a minha tentativa de permanecer em vida. Tenho testemunhas suficientemente reais. A vida foi a única que testemunhou toda a verdade. Essa realidade vocês nunca poderão tirar de mim. E o mesmo sol, a mesma areia e a mesma água ainda guardam com importância os reais fatos daquela vez que fui deixado na praia.
Mais forte que a sede de morte que me perseguia naquele dia é o poder da verdade. Foi o meu silêncio que justificou toda a minha trajetória. Meus ferimentos e a falta de rancor me devolveram a credibilidade que vocês pensavam ter me arrancado. Nada jamais poderá explicar como o meu silêncio me protegeu de todo veneno que vocês ainda faziam questão de espalhar depois que fui deixado por lá. Me conheceram tão bem a ponto de me desmontarem, mas nunca entenderam o sentido da minha existência. Alcançar a minha sanidade e descaracterizar a minha imagem foi até uma tarefa fácil. Só que vocês falharam ao permitir que eu continuasse vivo.
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