DEIXADO NA PRAIA - TEXTO 2

By Tiago Ferreira - 9.8.18

E quanto custava a força? Tão cara quanto o valor da minha alma em pedaços, era a força que me fazia caminhar sem conseguir sentir o chão. Eu era conduzido ao abismo da duvida sem perceber que o tempo me empurrava ainda mais para perto das possibilidades de destruição. A minha pele morena recebia a luz do entardecer e minhas estrias reluziam a fragilidade do meu corpo. Minhas cicatrizes físicas nunca foram mostradas para tantos olhares.

Os olhares que me alcançavam me tiravam a possibilidade de manter o foco em algo. A manipulação da minha imagem tinha alcançado um objetivo. Os mesmos olhares que me eram lançados, me ignoravam o socorro. As mesmas almas que assistiam o meu desespero, eram as mesmas que nem sequer questionavam as razões do meu enlouquecer. Louco. Ali eu não passava de um louco. Sem poesia e sem sentimento. Apenas louco. Apenas um corpo vazio e uma mente que ecoava algum trauma. Haviam me transformado em uma sombra. Os olhares que me alcançavam somente viam um corpo desgraçado por alguma droga caminhando.

Encontrei nos olhos que me perseguiam o desejo profundo de arrancar as minhas asas. Já não tinha sido suficiente me impedir de voar. As mesmas asas que foram quebradas também corriam o risco de serem arrancadas. Não parecia suficientemente bom ter me feito outra pessoa, ter me tornado um descompensado qualquer e ter me abandonado longe da minha casa. Ainda se fazia necessário me tirar a possibilidade de contar a minha versão da história. Me empurrar para o abismo da culpa era a maneira mais inteligente de me fazer permanecer sem voar. Me fazer pular do abismo da culpa era de longe a maneira mais eficaz de matar qualquer possibilidade de vida que insistisse em permanecer viva em mim. Atribuir ao meu desespero e ao meu medo culpa por me conduzir ao desejo de fuga, era a maneira que eles tinham descoberto de tirar de mim qualquer possibilidade de fala.

Silêncio. Preciso ouvir o mar. Saia da frente do sol. Preciso sentir seu calor. Não construa castelos de areia. Deixe a areia tocar seu corpo. Não puderam existir palavras que dissessem a minha verdade. Afinal de contas, foi fácil destoar a minha imagem. Meus agressores conheciam bem ao meu respeito. Eu mesmo tinha dito e mostrado tudo que eles sabiam. Nunca filtrei qualquer detalhe enquanto vivi ao lado de cada um deles. Aos poucos todos detinham um pouquinho de mim. Eu fui como os grãos de areia que envolveram o meu corpo. Cada pedacinho de mim que foi usado para me tirar a possibilidade de fala - de voar - voltou para mim quando lembrei da sensação de vida que me alcançava naquele dia na praia.

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