NÃO QUERO FAZER SENTIDO

By Tiago Ferreira - 12.8.18

Se eu decidisse fazer um inventário sobre as conquistas do meu caminhar, não tenho certeza se teria tudo em seu devido lugar. Já sou tudo que almejei e já tenho cicatrizes o suficiente para comprovar a minha trajetória. Realmente parece difícil definir o que me falta. Não sei se me lembro de ter visto o deslumbrar do amor ou se já cheguei a acordar pela manhã completamente satisfeito com a minha existência. Tenho a certeza de que algo não foi colocado de maneira correta na linha do tempo da minha vida, mas não sei se realmente quero saber o que ficou fora do lugar.

Posso ser feito completamente de vidro. Feito um enfeite antigo e empoeirado, posso estar em exposição numa estante vintage de uma casa qualquer. Qual seria o meu sentido de viver se agora me sinto como um objeto inutilizado? Eu sei que posso quebrar a qualquer momento ou ser coberto pela poeira, mas já não fui esquecido completamente? Não sei qual o sentido da queda, mas sei que tenho todos os sentidos desorientados e até a coesão das minhas palavras desapareceu. Todos os meus discursos caíram na armadilha do destino e tiveram sua razão anulada. Não sou nada sem o que me falta, mas não quero descobrir o que me faz querer ser algo além do que me sinto hoje.

A possibilidade de não fazer sentido seduz quem não sabe como preencher o coração com as possibilidades da vida e a doçura da perda contagia o paladar de quem realmente procura algo que não conhece. Me sinto como um personagem de uma história infantil que não tem coragem o suficiente para enfrentar o leão. Sinto que sou parte da imaginação de uma criança que não pensou em uma história completa para a sua personagem. Meu cérebro nunca esteve tão desnorteado, então só decidi ser a personagem da história que a criança inventou.

E mesmo que tudo não tenha sentido agora, só quero ter a certeza de que não quero encontrar o que me falta. Não sou nada sem as duvidas. Não sou nada além da parcialidade. Não quero fazer sentido agora.

Artur Cacossi


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