SERENO CONTRASTE - CONCEPÇÕES

By Tiago Ferreira - 14.8.18

Sereno Contraste O que me inspirou a criar o trabalho "Sereno Contraste"? Quais foram as percepções da época e o que foi vivido e modificado após a criação e divulgação desse trabalho? Hoje, quase três anos depois, volto ao ano de 2015 para reviver as sensações desse trabalho e o justifico novamente vivendo o ano de 2018.

Sereno Contraste

contraste
substantivo masculino
1.
grau marcante de diferença ou oposição entre coisas da mesma natureza, suscetíveis de comparação.
"c. entre sonho e realidade"

"Sereno Contraste" nasceu baseado exatamente no sentido literal de seu nome: a serenidade encontrada nos contrastes da vida. Sempre me foi muito óbvia essa relação que a vida tem com os contrastes que lhe são apresentados, mas, em diversas situações, era difícil acreditar que determinados aspectos desses contrastes eram serenamente naturais.

Na época da publicação do trabalho encontrei parte dessa compreensão que me faltava sobre o assunto num poema de Vinicius de Moraes, e foi exatamente essa poesia que norteou a justificativa naquele momento.

"De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço
- Meu tempo é quando."!

Moraes, de Vinicius - Poética (I)

Mediante ao poema, existe um trecho da justificativa de 2015 que é bastante pertinente com a atualidade:

"noite/ardo - sabemos que arder não significa penas ser consumido em chamas, mas também se refere a estar aceso. Essa ambiguidade é parte integral de um ciclo da vida: a inabilidade no inicio, o obscurantismo na adolescência e na fase adulta a destreza adquirida anteriormente. Acredito que essa lógica de ciclos está totalmente correta, mas jamais deixaremos de aprender e/ou de adquirir experiências. Se no inicio somos inábeis perante decisões relacionadas a nossa vida, na adolescência a ignorância - que nada mais é do que o processo de aprendizagem - vamos cair, chorar, nos machucar e também ferir, mas será na destreza da fase adulta que perceberemos que algumas decisões e caminhos traçados serão irrevogáveis." 


É exatamente dentro desse sentido de fases que é atribuída à vida que encontramos todos os possíveis contrastes. É interessante ressaltar que passamos praticamente toda a vida aprendendo e questionando, mas, dentro das três fases expostas no trecho, chegamos em situações que ficamos presos entre aprender e assimilar. Não caminhamos pela vida com decisões e planos já bem definidos. Não temos como prever o que acontece e muito menos temos a possibilidade de evitar alguns erros. É dentro desse sentido de inesperado que buscamos compreensão e sabedoria. Parece existir uma separação entre conseguirmos aprender mediante ao erro e assimilar que erramos. É como se as duas situações entrassem em conflito, em contraste, e uma precisasse da outra para se fazer acontecer mesmo que a duas possam ser bem diferentes: primeiro assimilamos o acontecimento e depois aprendemos com ele.

Sereno Contraste
A relação de surpresa com o inesperado é outro contraste bem comum no nosso caminhar. Ao mesmo tempo que temos a opção de livre escolha, ficamos presos em planos e metas que passamos a desenvolver na segunda fase de nossas vidas. Ao mesmo tempo que almejamos o desejado queremos encontrar o inesperado. Não acordamos pela manhã cheios de certezas sobre nossos planos, mas somos pegos de surpresa quando alçamos o que foi planejado. É sereno estar na condição de sonhador e realizador de sonhos ao mesmo tempo que é possível ser surpreendido pela realização de uma meta antes ou depois do tempo almejado. De certa forma estamos sujeitos a acreditar que a vida discorre independentemente de acordarmos ou não para lutar pelo o que acreditamos. Essa certeza de que nada muda se estivermos ou não acreditando no manhã é basicamente a definição de aprender que acompanha todos os nossos contrastes.

"'A oeste a morte contra quem vivo' - o oeste é onde o sol se põe e, por decorrência, onde tudo termina. Moraes tinha apreço pela vida, logo não desejava a morte e praticamente vivia “contra” ela. Os poetas românticos e simbolistas tinham uma simpatia pela morte e alguns deles um desejo ardente por ela. Eu sou um tipo de pessoa que se divide nesse aspecto; ora quero me encontrar com a morte e dançar com ela, ora quero viver cada dia como se fosse o último, ora não tenho ânimo para viver e nem pique para dançar com a morte. Digo que sou basicamente bipolar em relação aos meus anseios e desejos, mas, quase sempre, quando o sol se põe já me sinto como um morto."

Quem nunca já se sentiu desanimado e completamente sem chão que atire a primeira pedra. Esse trecho da justificativa definitivamente define bem a vida de muitas pessoas. Eu, por exemplo, como escritor passei por fases em que me identificava com afinco com alguns aspectos e sentimentos da vida. Pelo o que me é possível recordar, em 2015 eu ainda conseguia encontrar conforto para as minhas inquietações na possibilidade da morte. Sombrio e drástico demais para você? Para mim não era. Foi bem natural acreditar que era viável deixar de existir - já que a vida continuaria acontecendo - para deixar de sentir algumas coisas. Mas qual era a razão de eu me sentir assim?

"Eu sou um tipo de pessoa que se divide nesse aspecto; ora quero me encontrar com a morte e dançar com ela, ora quero viver cada dia como se fosse o último, ora não tenho ânimo para viver e nem pique para dançar com a morte." - Eu não tinha uma definição. Não sabia no que me apegar ou no que acreditar. Eu poderia estar me sentido vivo hoje ou morto amanhã. Era basicamente a razão pela qual eu não conseguia ver serenidade nos acontecimentos dos contrastes da minha vida. Eu não sabia se eu queria aprender, assimilar, viver, morrer, chorar ou sorrir. Era dual. Era bipolar. Meu estilo de viver a vida era corrompido pelo amargo que ela havia me entregue até ali. Talvez eu tivesse uma certeza naquele momento: não era algo prazeroso viver. E, de certa forma, esse é o principal contraste que compartilho com a atualidade que vivo em 2018.

Sereno Contraste
"Outros que contem/Passo por passo:/Eu morro ontem/Nasço amanhã – para Moraes não era de seu interesse se preocupar com a continuidade de dias. Ele considerava o seu próprio renovo uma das principais prioridades da sua vida, e nenhum problema do cotidiano conseguia lhe afligir drasticamente a ponto de tirar-lhe a esperança do amanhã." - Hoje compartilho por inteiro dessa mesma certeza de Moraes: meu renovo - em todos os aspectos da minha vida - é minha prioridade. Cheguei em 2018 de mãos dadas com a assimilação e aprendizagem perante aos passos que dei. Tive que assimilar meu trajeto e aprender sobre mim. Talvez eu não seja um mar de esperança, mas tenho alcançado uma definição sobre as minhas convicções a ponto de permanecer forte quando estou diante da desesperança.

Sereno Contraste
Nessas fotografias estou num estado bem espiritual. Capturamos as imagens num bairro de zona rural e encaixamos os elementos da essência que me norteava naquele momento. O menino da foto voltava o seu olhar para o que acontecia entorno. As minhas certezas contrastavam com a minha realidade. Minha essência ainda se construía e diversos passos que dei ainda eram por mim assimilados. De certa forma eu vivia a serenidade com toda a intensidade que existia em mim. Eu brigava para ser serenamente real dentro dos contrastes.

Em suma, "Sereno Contraste" parece ter nascido para justificar o meu crescer. Eu já acreditava em convicções da minha atualidade, mas ainda buscava parâmetros para alcançar o conhecimento que detenho hoje. Afinal de contas, não era possível assimilar qualquer coisa tentando descobrir no que acreditar.


As fotografias desse trabalho foram capturadas por Olívia Vieira. Clique aqui para visualizar todos os trabalhos fotográficos que Olívia contribuiu para o Limoções.
Você também pode visualizar a publicação original desse trabalho clicando aqui.


E você, já passou por alguma dificuldade de assimilação na sua vida? Teve que separar o seu aprender do assimilar? Quais são os contrastes que você percebeu ao decorrer da sua caminhada? Deixe seu comentário para conversarmos sobre suas considerações.


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