EU SÓ ESTOU SENDO

By Tiago Ferreira - 29.4.19

Fotografia de Olívia Vieira para o projeto "Abril 30/30" do Limoções.
Eu sigo sozinho sem temer o que não vejo. Vou ao sentido do amanhã sem esperar ouvir aquilo que não ouço. Não tenho mais os medos de ontem e estou bem convivendo com os medos que surgirão ao amanhecer. Eu ainda não domino os caminhos da vida e ainda não sei se chegarei ao ponto almejado, mas já esquematizei os trajeto e vou sozinho em mim, me fazendo inteiro na minha existência.

Honro a minha trajetória e, mesmo no cansaço, aprendi a conviver com a exaustão. Ou eu seguia tendo consciência das minhas fraquezas, ou era engolido pelo leão. Me fiz bem próximo do fim, me alimentei da destruição, me dei a chance que me fora tirada e segui caminhando sem me importar com os gigantes que se levantaram para tentar me parar. Eu sigo só, somente cansado, somente guiado, somente inteiro, somente cicatrizado e me faço ser somente o que quis ser. Não adianta questionar cada passo que dei, pois jamais encontrei alguém que estivesse disposto a viver o que vivi para estar aqui. Meu caminhar tem sentido e minhas palavras foram fundamentadas nas histórias que descrevi ao decorrer da jornada. Sou por mim o que fulano não foi, sou para mim o que ciclano não foi e sou a importância que jamais me fora atribuída por beltrano.

Talvez exista quem se esforce para compreender os alicerces que sustentam a minha existência, mas talvez jamais exista justificativas para o que sou. Aceito ser o que me fizeram, aceito ser o que quis ser, aceito ser o que imaginam que sou e aceito não retribuir os horrores que vivenciei. Pobre, simples, afoito e desconfiado. Pobre, complicado, afoito e desaforado. Pobre, respondão, rancoroso, ressabiado e forte. Sou os adjetivos que ainda não vi, assim como sou as lágrimas que ainda não derrubei. Sou os passos dados pelos cacos de vidro, assim como fui aquele que acreditou no amor. Sou solidão contemplada, sou passos sem estradas, sou celebridade sem fama, sou pessoa que não ama. Sou o que fui ontem, sou o que não fui anteontem. Sou os sorrisos que dei, sou as gargalhadas que disfarcei, sou as palavras de felicidade que não foram transcritas.

Tomei folego para ser, então não serei nada abaixo do que esperei ser. Ainda tento conviver com a vida, tento aceitar as histórias que foram escritas, ainda estou digerindo o que fugiu do planejado, ainda estou aceitando ser alvejado. Não me importo mais em me defender das palavras que tentam me descaracterizar, pois sei que cada palavra infeliz é dita por uma pessoa infeliz. Infeliz foi aquele que me caracterizou com o rancor, uniu minha imagem ao mal e me fez cair no fogo no rancor. Infeliz foi aquele que quase me fez desistir de ser, de sorrir, de imaginar, de escrever e de falar.

Tá tudo bem.
Eu só estou sendo.
Não interessa a dor.
Ser eu nunca foi fácil.

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