ÚNICO INTEIRO

By Tiago Ferreira - 18.4.19

Fotografia de Olívia Vieira para o projeto "Abril 30/30" do Limoções.

E se eu decidisse ser um só, será que os pedacinhos de mim que partiram voltariam para me compor? E se eu deixasse de ser metades para formar um único inteiro, será que seria possível colar os caquinhos de mim? E se eu deixasse de ser retalho para ser apenas inteiro, será que eu conseguiria costurar as partes de mim que estão fora do lugar?

Não sei se fiquei perdido de mim ou se me separei daquilo que vivia em mim, mas decidi que preciso ser inteiro. Sem metades para beltrano e sem metades para ciclano. Só preciso encontrar a metade do que fui para conseguir desfazer o erro. Deixarei para trás a história mal contada de que pedacinhos de mim devem ser deixados ao decorrer da estrada. Quero tudo que existe de bom em mim convivendo com tudo aquilo de ruim que existe em mim. Não parece mais ter sentido permanecer me desfazendo por não suportar a ideia de ser inteiro. Estou farto de me desencontrar, de ter medo de me conhecer, de temer o que desconheço em mim, de não viver o que sou e de não sentir o que realmente vive em cada fragmento do meu ser. Não me interessa mais ser bom, ser ruim, ser verdadeiro ou falso, ter medo ou me largar ao descaso. Não quero mais me rasgar para ter que continuar em pé. Preciso de cada defeito meu para ser inteiro.

Não me parece justo me separar do que sou. Se as sombras do que fui me amedrontarem, eu resisto por inteiro. Não sou a metade do que fui e nem a sombra do que doeu. Sou único em mim, sou de mim, sou para eu, escolho me fazer inteiro.

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