ESCURO REFLEXO

By Tiago Ferreira - 17.4.19


Olhei para o escuro e o silêncio me fez sentir aquele velho nó na garganta. Não sei o que esperava ver naquele canto sem luz, mas nunca estive preparado para ver o que não quis enxergar. Talvez eu soubesse o que esperar, mas não sei se devesse esperar coisa alguma. Não sei se o que vivia no escuro era vivo, era lúcido, era manso, era feroz, era feliz ou triste. Talvez eu soubesse o que esperar, mas não sei se devia esperar alguma coisa viva.

Aquela duvida me corroía, me fazia pensar mil coisas, me fazia sentir mil coisas e me enchia de pavor. O escuro me impedia de ver o que eu precisava e a duvida me fazia questionar a necessidade de ver o que não via. Aquele ambiente parecia inóspito, o silêncio era ensurdecedor e até mesmo a paz que parecia residir ali me fazia questionar a veracidade da necessidade eu estar ali. Era tudo tão incerto, tão duvidoso e tão inesperado que eu precisava encontrar o que havia imaginado. Não sei ao certo o que queria, mas sei que meus olhos não estavam fechados. Não senti a alegria e nem a triste, não senti a vida e nem a morte - tudo parecia indiferente. Não foi possível sentir mais nada que não fosse a necessidade de conhecer aquilo que vivia naquele escuro, naquele silencio, naquela projeção de paz. Talvez eu soubesse o que veria ou talvez soubesse o que não queria ver, mas no fundo sabia o que iria acontecer.

Cansei-me do escuro. Acendi a luz. Me vi no espelho.

  • Compartilhe:

VEJA TAMBÉM ESSES DAQUI

0 comentários