O MUNDO ESTÁ REPLETO DE EXISTÊNCIAS, MAS NÃO É EM TODO LUGAR QUE A ESSÊNCIA DE HUMANIDADE RESISTE

By Tiago Ferreira - 26.7.19


Depois de anos se construindo, se fazendo gente, se fazendo humano é possível discorrer sobre a decepção que é se entregar para a condição de confiança que a humanidade estabelece sobre um sujeito. Depois de ter sido desconstruído, desencarnado e desmontado fica evidenciada a condição desumana que se encontra na obrigatoriedade do sujeito se fazer humano. Não existe validez para a trajetória, pois todo passo dado não pode ser visto pela humanidade. Nem mesmo aquele que se faz inteiro pode enxergar por completo a importância da existência de todas as essências. É difícil ser gente quando não se pode agir como gente, assim como parece impossível se ver sozinho diante da necessidade de fazer parte de um inteiro. O homem parece frágil demais, parece ilusão demais, parece sonho demais e parece egoísmo demais. Ser humanidade não parece ser parte de algo, não parece ser sobre traçar metas, viver amores e sustentar méritos. Nada é tão inválido quanto acreditar que o ser gente é algo que transcende as expectativas da existência. A condição de vida precisa ir de encontro com a expectativa alheia. Dói se construir, dói existir, dói se sustentar e ainda ter que permanecer preso no olhar de todos aqueles que não enxergam a sua humanidade.

Se você se sente pessoa, deve perceber que nem sempre sua voz ecoa. Estar trilhando um caminho para algum lugar que faça sua trajetória ser digna de aplausos, faz de você gente. Planta, irriga, colhe e morre é exatamente assim que vive a perspectiva de todos aqueles que escolheram permanecer presos na defensiva, na condição de guerreiros solitários, na vida imaginada numa única perspectiva. Só vê um ângulo de si quem escolheu se armar diante das verdades ditas na perspectiva de outro ser. Não se tira o direito de ser gente de todos aqueles que ainda não compreendem o significado do trajeto. Nem sequer quem se escondeu atrás da razão se esforça para perceber que nem só de sentimento se vive o homem. Que condição é essa em que somos obrigados a errar para aprender? Que sentido faz ser gente se nem sempre seremos vistos como tal diante dos olhares daqueles que ainda não percebem o valor da humanidade?

Todas as perguntas ainda parecem possuir uma única resposta. Quem nunca sequer se viu no espelho não consegue ter dimensão do tamanho da sua importância. Vamos resumindo a existência de beltrano em ataques, vamos resumindo o trajeto de fulano em arrogância e vamos destoando a importância da vida de todos aqueles que ainda sabem falar. É unânime, nem todos aqueles que se sentem humanos, conhecem o valor da humanidade. Qual é o sentido das relações interpessoais se para se sentir gente é necessário viver armado? O ser é dotado de recursos importantes, é evoluído e sabe como manipular seus recursos. A boca nem sempre fala o que o coração esconde, as palavras nem sempre trazem significados em suas entrelinhas e nem mesmo aquele desabafo do cotidiano pode ser capaz de ser encarado como um ensejo de liberdade. A consciência de si faz do homem um escritor de histórias reais, um grande colecionador de cicatrizes, um especialista em valorizar os passos que deu e um verdadeiro artista no quesito solitude. A humanidade que contesta, não presta. A humanidade que compara, não passa de uma brutalidade contra o caminho daquele que ainda não se viu no espelho. A pessoa que entoa a coragem para falar da condição em que se encontra, não se fará ouvida pelo ser que permaneceu preso na insignificância da sua surdez. O mundo dos humanos conduziu a humanidade a permanecer na retaguarda. Todos parecem segurar armas, todos parecem estar apostos para matar, para ofender e para fazer com que a dor seja reciproca.

Tem o dom da fala quem preferiu não encarar as consequências. Fala a sua verdade quem tem preferido não se sentir covarde. Quem é gente de verdade sabe o seu valor, sabe o seu lugar, sabe que precisa falar. A trajetória valida a história e resguarda quem não precisa se sentir grande para contestar. As guerras, as perdas, os sorrisos, as lágrimas e tudo que não é encarado como humanidade, não pode ser usado para massacrar aquele que ainda não sabe ouvir. Permaneceu preso na desconfiança, permaneceu preso no contra-ataque e permaneceu preso na insegurança todo aquele que escuta outro ser humano e acredita que a existência é simplesmente alimentada pelo o ataque.

Está tudo bem em ser gente. Ninguém pode ser cem por cento compreendido, ninguém pode deter toda razão e ninguém jamais pode se prender ao outro. O mundo está repleto de existências, mas não é em todo lugar que a essência de humanidade resiste.

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Texto escrito em 26 de julho após minha existência, minha humanidade, minha lealdade e minha humildade terem sido contestadas diante de uma inversão de perspectivas. Nesse dia recebi a coroa da vilania e o amor foi substituído pela visão deturpada de uma pessoa que não sou, ou que jamais serei.

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