TRIUNFO NO INFERNO

By Tiago Ferreira - 15.11.19


Viver tem sido sobre permanecer em pé, pegar a maldade deixada por aqueles que a semeiam e utilizá-la como escudo. Tem sido sobre sorrir sem vontade, caminhar sem ânimo e estar preparado para responder as provocações que alcançam a existência daqueles que trilham seu caminho de mãos dadas com a autenticidade. Não precisamos ser como ninguém, não precisamos ter grandes ídolos, não temos que sustentar inúmeras expectativas e nem sequer temos que vestir a capa de super heróis. Quem é que nos diz o que fazer?

O céu tem seu pedacinho no inferno e só alcança a plenitude quem aprende a permanecer dono de si na bagunça. Não existe qualquer espécie de santidade que determine a estadia das bênçãos que aguardam aqueles que trilham o caminho sombrio, não existe castigo para todos aqueles que escolheram não se inspirar nas histórias sagradas, não existe penitencia para quem escolheu rir da sentença estabelecida pelos os olhares da condenação. O mundo está cheio de juízes, então que sejamos condenados, que sejamos sentenciados a vivermos nossa própria história sem medo das consequências, sem temer o final da história, sem ter medo de alterar nossa essência e criar novas lembranças, novas memórias. O céu deve ter sossego, deve ter tranquilidade, deve ter paz e deve ter espaço para todos aqueles que não se cansam de curtir as músicas que tocam no inferno.

Está tudo bem no fato de que conhecemos o demônio e fizemos dele um amigo em comum. A dor tem o poder de conectar pessoas, então que a vida seja vivida por quem de fato conhece a verdadeira necessidade de carregar nos ombros o peso da esperança. Quem chora também já sorriu, assim como as dores que carregamos hoje poderão ser cicatrizes se todas as crenças estiverem voltadas para a nossa própria existência. Nem só de sonhos se vive uma pessoa, logo a realidade faz parte da nossa história, deve ser aproveitada, deve ser valorizada, deve ser registrada e jamais esquecida. No momento de glória se faz necessário lembrar que nem toda dor foi desnecessária.

Os dias atuais nos ensinaram uma lição importante: nem toda razão se encontra no silêncio, nem toda dor é dispensável, nem todo sorriso é válido, nem todo o amor é essencial, nem todo medo é prejudicial, nem toda lágrima dói, nem toda coragem é coerente, nem toda desistência deve ser contestada, nem toda mágoa deve ser alimentada e nem todos os passos serão capazes de justificar a nossa luta. Todo desajuste provocado por cada desajustado deve ser levado em consideração, pois somos os únicos capazes de celebrar nossos defeitos, de validar nossas imperfeições.

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