UMA HISTÓRIA DE AMOR

By Tiago Ferreira - 16.12.19


Desenhamos um cenário em conjunto, mas cada um criou em segredo suas personagens. Não combinamos direito os detalhes do nosso roteiro, então seguimos mantendo em segredo cada idealização que não era compatível com as expectativas um do outro. Compusemos um cenário romântico para a nossa primeira vez, roteirizamos nossa primeira briga e atuamos de forma magnifica quando conhecemos um a família do outro. Preenchemos cenas pensando nos detalhes que não escrevemos e tivemos que improvisar diante das ações imprevisíveis do amor fictício que inventamos.

Eu me apaixonei por uma louca da ficção, que misturou romance e terror, que roteirizou falas clichês e encheu minha vida de cenas de filmes adolescentes. Me fiz personagem das histórias que ela dirigiu e não sei se fui protagonista, se fui coadjuvante ou figurante. Minha imaginação sempre foi muito fértil, por isso escolhi viver as histórias que ela produziu. Fui vilão, fui mocinho, fui sociopata, fui inocente, fui vitima e até herói. Me apaixonei por histórias que não quis viver, me compus para cada personagem que não aceitei incorporar e me preparei para todas as cenas que recusei encenar.

Eu contracenei com o demônio, mas minha cabeça via apenas o anjo que minha imaginação desenhou. Meus passos foram dirigidos pela vilã e minhas falas escritas pela roteirista do inferno, que escreve com riqueza de detalhes as dores que são são aplicadas a quem vive no abismo, mas eu ainda conseguia ver a aureola no diabo. Me apaixonei por tudo aquilo que imaginei por uma vida e fiz da atuação meu pedacinho de céu. Permaneci preso no momento, me fingindo de cego, me fingindo de feliz, me fazendo acreditar que poderia trazer as histórias das personagens que vivi para a vida que ignorei. Amei como num longa metragem, seguindo uma linha cronológica, sabendo da existência de um começo, de um meio e de um fim. Me apaixonei pela mentira, me diverti evitando a realidade, me vi num final feliz trazido para a realidade.

Atuei ao lado do demônio sabendo que a história teria seus altos e baixos, sabendo que poderiam existir furos de roteiro, sabendo que poderia acontecer rejeição por parte da audiência, sabendo o alto custo da produção e consciente de que havia idealizado uma franquia. Me apaixonei em segredo pelo demônio e deixei que ele dirigisse a minha vida.

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