Quem detém os direitos autorais da alegria? Quem guarda o direito de ser feliz? Quem é que determina a hora certa de sorrir? Ainda são indefinidas as respostas para todos os questionamentos que permeiam os momentos de felicidade que raramente aparecem diante do cotidiano rodeado de desgosto. Vivemos o auge da luta assim que abrimos os olhos ao amanhecer e, mesmo não tendo mais condições de militar pela força, seguimos para a guerra que nem sequer escolhemos viver. É sempre a mesma história: você precisa agradecer. Nossos agradecimentos são direcionados a quem? Ao dono da conquista? Ao dono da felicidade? Seguimos diariamente com meia dúzia de sonhos em punhos e outra meia dúzia escondidos da maldade. Vivemos a força que desconhecemos, assim como lutamos contra a obrigação de atribuir ao desconhecido os méritos de nossa força.
Tem sido insustentável conviver com a luta diária, com as marcas e traumas, com os medos e os rancores sem ter o direito de esmorecer. Somos feitos de carne e osso, mas qual seria a razão de nossos esforços não serem creditados a nossa luta? Não temos o direito de conviver com a dignidade, assim como não podemos baixar a guarda. Estamos realmente vencendo? São tantos os poréns, são tantos nãos, são tantas as perdas que somos diariamente silenciados. Parece impossível acreditar que vencerá um dia todo aquele que não desistiu de lutar. A vida seca mata, o sol quente queima e o dia de chuva molha todos os sonhos de quem simplesmente vive para transformar todo o inferno em inversão.
Devemos atribuir os créditos aos seus devidos autores, pois somente quem é dono da força que carrega tem o direito de sustentar suas cicatrizes. As histórias são escritas por quem não desiste. Os corpos que sustentam a dor maquiada com um sorriso, vivenciam seu próprio apocalipse. E mesmo que nossa causa seja motivo de alegria para quem agoura nossas conquistas, nossa luta é real. A luta não precisa ser convincente, as dores não precisam estar nas vitrines, o sorriso não é uma lei. Seja dada toda honra e toda glória para quem é autor de sua própria história.
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