HUMANIZE

By Tiago Ferreira - 30.5.20


Queria que alguém tivesse me dito lá trás que seria importante ser forte para sustentar o que se acredita. Possivelmente eu teria me preparado para suportar todo o peso que me fora atribuído ao decorrer dessa jornada. Tive que descobri sozinho que seria necessário me desconstruir para ser quem sou hoje. Foi desmontando partes de mim que me tornei capaz de encaixar o novo, o desconhecido e o que se mostrou mais útil diante de tudo que tive que tirar. Cada pedacinho de mim que não foi servindo mais, foi ficando para trás. Sem qualquer espécie de orientação, de aviso prévio, de guia ou de manual fui capaz de seguir sustentando o que cabia em mim.

E foi transbordando que me tornei capaz de apreciar a profundidade dos problemas que eu não sabia administrar, dos questionamentos que não conseguia solucionar e de todos os sentimentos que busquei evitar. Foi esparramando por aí o pouco de mim que conhecia que me tornei capaz de regar os caminhos que transitei. Ninguém me convidou para semear flores, assim como ninguém me levou para ver o sol nascer. Foi por meio da inaptidão que me tornei capaz de moldar um coração sem fragmentos manchados, sem material manipulado e sem qualquer intenção que não flertasse com a inocência que eu portava diante daquilo que desconhecia. Eu vivi sem conhecer as impossibilidades e caminhei sem entender que os obstáculos poderiam me impedir de seguir em algum momento.

Agora, depois de compreender a importância de ter seguido com a garra e com a coragem, consigo ter vontade de voltar aos meus tempos de lutas. Tenho vontade de regredir no tempo para iniciar uma viagem de admiração e de gratidão. Sou feliz por ter sido quem escolhi ser, mesmo que tudo isso também compreenda vitórias do meu inconsciente, compreenda vitórias e lições que não consegui administrar de maneira direta. Sei que fiz o que esteve ao meu alcance e que não deixei de tentar um dia sequer. Tenho vontade de visitar a pessoa que fui dois anos atrás para simplesmente parabenizá-la por não ter deixado sucumbir na falta de perspectivas. Visitaria quem fui cinco anos atrás para lembrá-lo de que todo passo que escolheu dar significaria uma pequena vitória. Eu voltaria sete anos atrás para me lembrar de que está tudo bem, de que posso sorrir e chorar, de que posso tentar mais uma vez ou posso deixar pra lá. Se eu pudesse ver novamente as lutas que travei, daria parabéns aos guerreiros que fui, não me deixaria esquecer que faz parte desse processo sentir dor, se machucar, se cansar e se sentir sobrecarregado.

No meio da desconstrução e da necessidade de remontar, fui desenhando o significado de vitória. Nessa bagunça não anunciada, fui escrevendo o que determinei como a minha história. Talvez meu trajeto ainda tenha muito a ser analisado, mas me faz bem saber que agora tenho certo conhecimento sobre a minha humanidade. Humanizei o meu crescer - e isso não significa que deixei de estar certo ou errado. Na minha compreensão de vida, optei por não precisar ser obrigado.

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