BOLO DE MAÇÃ

By Tiago Ferreira - 28.6.20


É um dia azul. Demasiado azul. Um daqueles dias de outono. Ao descer as escadas, me confronto com os mesmos conflitos. A mesma notícia na televisão. Eterno retorno daquelas características de ontem. A novidade desse dia é que ninguém se entregou ao sentimento de medo, ninguém se entregou ao descaso e ninguém deixou de querer lutar - estamos obrigatoriamente em pé. No dia de hoje, as pessoas não são mais bondosas que ontem, nem mais dignas que amanhã. Não se sobrevive apenas da bondade alheia ou do olhar de pena de outrem. Inquieto, mas calado. Reflexivo, mas cheio de respostas. O dia de hoje é atípico. A dispensa está quase vazia, mas encontro alguns ingredientes: farinha, ovos, leite e maçã.

É outono. É tempo de bolos. Todos os sabores dessa estação sempre foram materializados com um famigerado bolo. A farinha, o açúcar, o óleo da lista de ingredientes irão complementar todas a nuances das maçãs, dos ovos, do leite e - por sorte - da canela em pó. O silêncio é rompido pelo ruído do liquidificador. Unta o tabuleiro, coloca mais um pouco da canela, despeja a massa e joga o açúcar. O forno pré-aquecido não demora a fazer com que o cheiro comece a se espalhar pela casa. O cheiro é de conforto, é cheiro de carinho, cheiro de força, cheiro de bolo de maçã.

Café passado, bolo assado e desenformado. Está tudo bendito: uma xícara, uma receita e uma vida de luta.


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