UM DIA EM DOIS TEMPOS

By Jade Tresca - 27.6.20

www

Manhã. Dia de semana. Uma hora e meia de atraso. Ela levanta, tropeçando. Água gelada no rosto, o cabelo reunido num coque, literalmente, acima de sua cabeça. Por hoje pensa em se deixar levar pelo ritmo de um bom blues ou pop ou folk rock ou sua famigerada playlist ou quem sabe uma bossa nova para relaxar. Ao celular, uma ruma de notificações. Trabalho, amigos, família, grupos, grupos, grupos. Cinco e-mails. Dez notícias. Aumenta o número de mortes no Brasil. Uma pandemia mundial. Alguma celebridade usando rosa, eliminação do BBB, alguém pintando a unha de branco pela paz - ou fim da pandemia. Alguma hashtag. Depois, mais uma ruma de estórias - ou stories. Será que é o fim da civilização humana?. O que vai comer. Enche sua - primeira - xícara de café. Serão pelo menos oito até o final do dia. Inquietação. Fluxo. Silêncio.

Silêncio. Do outro lado, ele levanta devagar. O dia parece ter mais de 24 horas. Toma um banho, busca seu café. Ao celular, ignora algumas notificações. Abre o jornal. Sim, o jornal. De frase em frase, palavra por palavra. Assimilação. Acomodação. O silêncio o preenche e satisfaz. Almoço. Café.

Café. Café. Cigarro. Café. O que está pensando aí?. A angústia humana. O que Freud dizia mesmo? Lacan?. Carência afetiva, relações líquidas, medo da solidão. Alguns temas que lhe vêm à mente ao ouvir mais um áudio. Mais um podcast. Dos pré-socráticos até Leandro Karnal. O que acha sobre isso? Como pensa aquilo? E como fica aquele outro? Mas qual a sua ponderação? O que está pensando aí?.

Nada. Literalmente nada, ele diz.
Nada? Após tantas horas?
É.
E sua opinião?
É preciso sempre ter opinião?


  • Compartilhe:

VEJA TAMBÉM ESSES DAQUI

0 comentários