TALVEZ SEJA COISA DE BRASILEIRO

By Tiago Ferreira - 12.7.20


Nos desencontros dos caminhos que trilhei, nas direções opostas as que eu deveria seguir, nas considerações que eu deveria ter guardado e nas lágrimas que eu deveria ter derrubado. Nos silêncios que vivenciei, nos gritos que ecoei e nas revoltas que fomentei. Foram tantas as manifestações, tantas interjeições, tantos desgostos. Foram uma, duas, três, quatro, cinco xícaras de café. Foram litros de café. Depois de contabilizar o que foi vivenciado em mais uma manhã, resolvo deixar tudo como está. Não estou bem, não estou mal. Não estou feliz, não estou triste. Tenho cigarros por hoje.

Talvez eu devesse procurar um novo site de noticias, abrir um aplicativo de compras só para ver o que não posso comprar ou revirar o armário buscando ingredientes para uma nova receita mirabolante. Tenho me cobrado movimento, tenho me exigido motivação, tenho ido atrás de inovação, tenho me sido um tirano. A última vez que me dei uma folga, pude sentir o cansaço que cultivei ao longo de anos de descoberta, de guerras, de desconstrução, de caminhada. Não sei se me faço bem em exigir estar bem. Já tem tempo que me dei a chance de não estar bem. Posso não ficar bem sem ter que me justificar? Posso me deixar no meio termo? Posso não querer estar bem ou mal?

Abril não passa. A porta do inferno se abriu e eu estou convivendo com uma vasta gama de demônios. Ainda não sei se é algo exclusivo de 2020, mas cada dia é mais exaustivo que o outro. Tenho medo do que me aguarda amanhã. A morte tem sido definida em números, assim como eu tenho definido meus dias. Somente nessa manhã de quinta-feira, li noticias o suficiente para matar a esperança. Não se espera muita estabilidade psicológica de um cara que já conseguiu sentir pelo menos meia dúzia de coisas somente nas primeiras horas da manhã. Talvez seja coisa de brasileiro. Talvez seja coisa de quem não pode parar. Talvez eu não seja o único a se perder em devaneios.


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