ALICE

By Tiago Ferreira - 24.7.20


O tempo me ensinou que tenho que me dedicar aos meus objetivos, aos meus sonhos, aos meus desejos e aos meus ideais. A vida sempre me cobrou dedicação, sempre me exigiu muito esforço e foco. Ao decorrer de todos os acontecimentos que rodearam e/ou rodeiam a minha estadia como visitante na terra, sempre fui conduzido para o aprendizado de quem sou, de onde devo estar e quem quero ser. São conexões feitas, são crenças desconstruídas, são percepções tardias e são questionamentos pontuais que dizem sobre a maioria das coisas que preciso saber.

A maior parte dos meus processos de conhecimento são solitários. Escolhi viver com a solidão faz um determinado tempo, então não vejo tantos problemas quanto a isso. Compreendo o meu lugar dentro do vazio, assim como compreendo o lugar que o vazio ocupa em cada centímetro de mim, mas, recentemente, descobri uma possibilidade de não viver certos processos sozinho. Sem a pretensão de me inserir, de trazer minhas coisas e me acomodar, sem a intensão de ficar, de fazer morada e sem qualquer pretensão de me instalar. Estou num mundo que não havia estado antes, conhecendo o que não tive a chance de conhecer até aqui. Como proceder diante do que me é apresentado? Como tomar cuidado para não corromper, para não descaracterizar e deixar em ruínas o mundo que me é entregue? Tenho a sensação de que não sou visita, não estou de passagem e não sei se quero ser passageiro.

Diante dos seus olhos posso ver o que me passa despercebido, diante das suas palavras consigo questionar o que evitei durante tanto tempo. Não posso ser outro, não quero ser outro, não preciso ser outro. Suas diferenças são o melhor que encontrei no desconhecido. Suas intervenções, suas interjeições, suas crenças, suas ideologias e sua simples maneira de encarar o que se enfrenta é o ponto de convergência entre o que sou e entre o que você é. A vida é cheia de encontros inesperados, mas não compreendo o nosso. Nos cruzamos sendo tão diferentes, nos conectamos tendo pouco em comum e não precisamos da intensidade, não precisamos dos rótulos e não nos obrigamos a justificar cada ponte construída. Escrevo sobre você parecendo estar apaixonado, mas, pelo menos no que diz respeito ao amor, é possível estar apaixonado sem que seja obrigatório um aspecto sexual numa relação. Se as nossas diferenças são nosso ponto de encontro, se tudo que não temos em comum é capaz de significar e conectar, me dou o direito de ressignificar a paixão. Parece mais uma das dádivas da amizade, do carinho e do amor. Parece algo encomendado pelo divino, pelo sobrenatural, pelo cosmos. A atmosfera do seu mundo é amigável e - se um dia você permitir - quero semear os frutos e as flores que conheço no seu jardim.

Andando no seu mundo, com seu cigarro mentolado, com suas perspectivas engatilhadas e com uma paciência antes não vislumbrada, te encaixo no meu mundo, te abro as portas para a minha realidade, para o meu faz de conta, para tudo que construí até aqui. Se não estou enganado - e tenho certeza de que não estou - você me deu a chance de me ver, de me ouvir, de me fazer presente, de ser o que se é. Num momento em que o belo não sobrevive, o inimaginável está dentro daqueles que sustentam seu próprio universo, guardam seus desejos e sonhos, perseveram para que não sejam consumidos por tudo que foge do controle. Já devo ter te dito algumas vezes, mas Deus é mulher. Deus é mulher. Deus é mulher. Deus é mulher e vive num mundo parecido com o de Alice.

"Walk in your rainbow paradise (Paradise)
Strawberry lipstick state of mind (State of mind)
I get so lost inside your eyes
Would you believe it?"

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