FALEI POUCAS VEZES SOBRE A VITÓRIA

By Tiago Ferreira - 20.10.20


Estive pensando em escrever sobre a vitória, mas não sei ao certo como é ter a vitória. Não cheguei a conjugar o verbo vencer por muitas vezes, na verdade me recordo de usá-lo pontualmente. Sobre a vitória eu tenho considerações deturpadas o suficiente para não me sentir seguro de discorrer sobre ela, mas tenho sentido vontade de falar sobre algo que jamais falei. Quem eu venci? O que me venceu? Quem venceu? O que vai vencer? Será que erro ao questionar o papel e o lugar do vencer?

Desde que me recordo, tenho vivido contando os dias. Até mesmo naqueles dias em que prefiro não contabilizar a cronológica, termino por registrar meus passos, os olhares lançados e as palavras cautelosamente ditas. Já faz tempo que venho me empenhando em permanecer calmo, a consumir menos cigarros e ficar em pé sem precisar flutuar. Escrevo sobre a maioria das coisas que escuto, que vejo, que ouço e que sinto, mas, depois de certo tempo, até isso é cautelosamente planejado. Talvez a ideia absurda de que estou sofrendo a ação do tempo tenha me deixado um pouco mais paranoico. Contabilizei as horas desde meu último erro cometido conscientemente, assim como ainda estou atento para enxergar aqueles que bagunçaram minha vida caminharem sem culpa. Talvez eu esteja vencendo os rancores, vencendo alguns aspectos simples dos meus medos. Talvez eu esteja me acomodando em mim, me deixando em paz, me deixando viver as próprias características que fluem. Se é de mim permanecer atento, então que eu fique atento. Se é de mim observar, então que eu fique vigilante. 

Esquisitamente normal. Estranhamente natural. Ninguém mais pergunta se estou bem, ninguém mais questiona meu sumiço e ninguém mais se importa se eu estou falando. Alcancei um certo nível de paz, de paz, de paz, de paz. Não evoluí no aspecto alegria, mas esse sentimento já não me importa tanto. O que fiz por mim tem a ver com o verbo vencer, pois venci a certeza de que deveria me despir das minhas próprias incertezas. Tenho tentado desde que me lembro. Posso, facilmente, me dar uma dúzia de méritos - e só percebi isso escrevendo esse texto. A vitória está relacionada ao fato de que tenho tentado permanecer bem. Então, eu venci.

Suportei, chorei. Suportei, surtei. Suportei, deixei. Suportei, senti. Suportei, aceitei. Suportei, venci. Carreguei segredos o bastante para me fazer transbordar - e todos eles eram sobre mim. Já evitei tanta coisa, tantas pessoas, tantos sentimentos, tantas lembranças e agora percebo que nem tudo precisa permanecer em mim. Posso me consentir a vitória, pois deixei em mim o que apenas é de mim.

  • Compartilhe:

VEJA TAMBÉM ESSES DAQUI

0 comentários