NÃO FAÇO GUERRA COM QUEM GUERREIA CONTRA O QUE SOU

By Tiago Ferreira - 30.10.20


Não consigo me lembrar com exatidão quando foi a última vez que me modifiquei para caber em alguém, assim como não me recordo com clareza quando decidi que não faria mais isso. Desde que percebi minha imensidão, tomei ciência do meu espaço e percebi que sou espaçoso, deixei de tentar caber em alguém e impedi que tentassem me apertar, me diminuir para conseguirem se encaixar em mim. Não digo isso com pesar ou com rancor, tanto que não interpreto isso como algo negativo. Sou mais familiarizado com a complementariedade. Ninguém precisa se modificar, jogar coisas fora, deixar de ser o que se é para estar com outro alguém. Não precisamos nos desconstituir para estar, para ser, para gostar, para amar. Eu sou espaçoso, sou o que sou, sou o que me tornei, sou tudo aquilo que cabe em mim.

E mesmo depois de entender que está tudo bem ocupar meu próprio espaço e fazer dele o que quero, ainda é difícil aceitar que não importa seu nível de convicção e segurança, pois algumas pessoas tentarão constantemente diminuir seu espaço, tentarão constantemente problematizar suas certezas, tentarão constantemente impugnar quem você é. Mesmo que você não seja um problema, um babaca, um idiota, um xucro, um imbecil e um monte de outros adjetivos, as pessoas tentarão te fazer sentir assim. A convicção e a segurança são um problema para aqueles que não alcançaram essas duas dádivas ainda. Estou em um momento em que prefiro permanecer no meu espaço e não revidar aos ataques que tentam diminuí-lo, mas é complicado permanecer quieto e fingir que não está sendo atacado. As investidas da insegurança são fortalecidas pelo mal. O sentimento de prisão, que faz com que os ataques aconteçam, é nutrido pelo simples prazer de fazer diminuir quem encontrou seu lugar. É bem complicado permanecer em paz, mas acredito que eu esteja.

Depois que a gente tropeça algumas vezes, cai e machuca o joelho, a gente passa a andar com mais cuidado. Talvez a vida funcione similar aos nossos tombos de infância. Quero dizer, já me modulei para caber antes e percebi que não é "saudável", já caí tentando acertar, já me desfiz para dar espaço a outrem, então eu já tenho uma certa bagagem. O mal, camuflado de insegurança, sabe machucar, sabe te deixar para baixo, sabe onde dói e sabe exatamente que tudo será feito para proteger o espaço de segurança que foi conquistado por mim. Não me curvo ao mal. Não revido ao mal. A baixeza do mal é asquerosa, mas seria definitivamente estranho se não fosse. Não faço guerra com quem guerreia contra o que sou e não devolvo mais os bombardeios que tentam me desestabilizar. Eu construí um reinado, um império, e foi difícil nutrir a autoestima para que eu me sentisse rei da minha história, da minha caminhada, dos meus capítulos, dos meus dizeres, dos meus sentimentos e da minha vida. Pode/m problematizar o que sou, me tratar como algo ruim, me fazer sentir péssimo, mas não é possível me tomar o trono. 

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