TUDO PASSA

By Tiago Ferreira - 14.11.20


Deixei de analisar minhas performances dentro das relações. Já não tenho mais o interesse de saber se fui amigo ou vilão, se plantei o bem ou mal, se aproximei ou afastei, se amei ou odiei. Depois de investir pesado em uma autocritica fudida, escolhi não me criticar mais, escolhi abandonar a visão analítica. O fado que determinadas relações impõem, possui o poder de pausar nosso olhar para outros aspectos de vida. Seria extremamente proveitoso se eu pudesse apenas dedicar meu tempo, meus esforços e minhas intenções para todas aquelas relações que problematizei - ou em que fui problematizado. Mas, pelo menos por agora, nem todos os problemas precisam ser solucionados.

Eu já nem sei mais quem sou, nem sei mais quem errou, não sei mais se o diálogo adiantou, se foi coragem ou covardia, se foi verdade ou mentira. Eu já não quero mais atribuir valor ao que passou. E tudo passa, a gente passa, as expectativas passam, o tempo passa, a vida passa. Apenas não considero passageira toda a força que dediquei para a minha construção, para minha compreensão, para o meu crescer. Eu sei que o tom parece egoísta, mas, no fim das contas, eu sou o que vejo quando olho para trás - e isso é o que realmente importa. Não é fácil falar de importância quando se tem fresca na memória a dor provocada pela desimportância que se recebe de outrem, mas ser desamado é um processo que passa também. Não sei quem de fato sou, mas tenho certeza de ser tudo que ninguém tem o direito de desdizer. 

Não me curvo para a opressão, não me modulo ao meu opressor, não sorrio para meu perseguidor, não deixo passar despercebida a tentativa de descaracterização. Não me analiso mais, por isso tenho tempo de cuidar do espaço que designei para mim. Meu corpo é meu, meu cabelo é meu, meu olhar é meu. Tenho domínio sobre os meus próprios determinantes, assim como viabilizo minhas próprias armas. Minhas palavras são minhas, minhas considerações são minhas, minha percepção do mundo me pertence. Tenho controle sobre a minha intelectualidade, sobre as minhas palavras, sobre o meu valor. 

Tudo passa, mas a maldade alheia não passa, o rancor alheio não passa, a inveja alheia não passa, a mentira não passa e as investidas de ataque jamais passarão. Por mim, o que não me pertence jamais passará.


Fotografia de Olívia Vieira ❤.

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