MEU SONHO MAIS RECENTE

By Tiago Ferreira - 2.1.22


No meu sonho mais recente, eu tinha a chance de me ver. Não foi difícil me encontrar, não foi difícil compreender os meus objetivos, não foi difícil ter empatia pelos sentimentos que eu carregava e não foi difícil estabelecer contato com o que eu representava naquele momento. A cena era a mesma de anos e eu reconhecia os trejeitos de quem estava empenhado em estudar as características de sua própria existência, enquanto nutria a esperança de manter intacta sua própria essência. No meu sonho mais recente eu vejo o que fui, mas não consigo encontrar o que me tornei depois. Tenho a impressão de que eu deixei de me importar com o que viria depois.

No meu sonho mais antigo, eu conheço o ontem e concluo que ele continua sendo parte fundamental do amanhã. Não sei ao certo como compus as palavras da minha escalada pela a história de minha própria autoria, mas acredito que estou habituado em finalizar capítulos. Desde que entoei o canto do desencanto, nunca mais tive sonhos que me conduzissem para além dos meus próprios domínios. O desconhecido me cansa. O novo me deixa exausto. Na minha atual versão de homem adulto e responsável pelos meus próprios boletos, deixei de cultivar o fetiche pelo transcender ao novo. As páginas da minha história não estão condicionadas a serem preenchidas por aquilo que ainda não conheço. Eu quero estar mergulhado em mim, quero me sentir, quero estar comigo, quero me ouvir e me conhecer melhor. Me recordo com carinho do brilho em meus olhos toda vez que fui induzido a acreditar que a vida precisava perpassar o conhecido para que começasse a valer a pena, mas eu também me recordo com avidez de todos as dores que doeram em mim enquanto buscava o novo, enquanto buscava o que estava além de mim.

A vida é aquilo que conhecemos, é aquilo que acreditamos conhecer, é aquilo que fingimos ter domínio e é aquilo que de fato nos pertence. O sentimento de pertencimento gosta de ser provocado pelo futuro, mas é sobre o presente que ele deveria ser aplicado. Não tenho mais medo do desgosto e todas as impossibilidades não me assombram mais. Me assusta o fato de eu me sentir com meus pés tão firmes no chão em que estou pisando, mas nenhuma dor pode ser nova a partir daqui. Não tenho o desconhecido boicotado dentro das possibilidades que ainda me aguardam, mas não tenho que me preocupar com aquilo que não conheço, com aquilo que não me pertence. Eu poderia fazer uma lista com todas as tratativas do desconhecido que priorizei enquanto deixava passar batido o que realmente integrava a minha existência, mas prefiro listar os sonhos que tenho sonhado:

Para além daquilo que me aguarda no futuro, eu sonho com meus boletos pagos, meus horários em harmonia e com um bom prato de comida disponível ao findar do dia. Para além daquilo que tenta me seduzir, eu sonho com meu cabelo hidratado, com meu artigo publicado e um par de tênis confortável nos meus pés. Para além daquilo que não me pertence, eu sonho com minha volta para casa em segurança, com minha família completa e minha criança com um sorriso no rosto.

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