EU EXISTO PARA MIM

By Tiago Ferreira - 6.3.22


Não consigo mais ansiar o cultivar, não consigo mais querer ver germinar, ter que nutrir, ter que cuidar, ter que me preocupar com a colheita e com o tipo de fruto que florescerá numa possível primavera. Também não quero mais estar em estações do ano, não quero mais ser o acontecimento previsível, ser as características estabelecidas e ter meu espaço de tempo delimitado em curtos períodos de atributos determinados por quem pensou que fosse possível permanecer o mesmo de ontem. Não aceito mais ser colocado em lugares que não reconheço como meus. A partir daqui recuso qualquer possibilidade de ser questionado dentro das minhas próprias idiossincrasias. Eu existo para mim - e não existo para o outro.

Estou sonhando sonhos maiores que minha própria existência - e eu nem sequer sou capaz de definir os tamanhos desse significado. Sei que estou grande o suficiente para caber em mim. Eu caibo dentro do que sou. Não transbordo certezas, não existo dentro de incertezas, não estou locado em meandros do caminhar, não estou acomodado em esperanças fajutas, não estou conformado com possíveis frustrações que tive a chance de acumular em períodos de incertezas, não detenho todo o aprendizado do mundo e não estou no auge de uma possível plenitude. Eu caibo no que permaneceu em mim, independendo daquilo que esteja colocado dentro da imperatividade do estar vivo, caminhando, sonhando e lutando. Minha existência cabe na realidade que me rodeia, independendo da tristeza e das características medonhas do meu mundo.

Se eu tenho por definição que não quero mais idealizar plantações e colheitas, também defino como essencial aquilo que já tenho cultivado até aqui. Não quero que o tempo pare, não quero que o tempo descompasse ou que ele me leve para o mais longe de onde estou hoje. Estou satisfeito com o que tenho aqui. Estou em completa fartura com a minha agricultura de subsistência. Não me imponho mais a necessidade de exportar tudo de bom que existe em mim para me submeter ao findar da aceitação, para ter que me ver sendo engolido pela aprovação, pela fútil necessidade de receber um selo qualquer de qualidade e para estar em lugares que já defini como fora do meu conceito de pertencimento. 

Eu me pertenço. Sou pertencente de mim. Estou dentro da minha própria propriedade, vislumbrando minha intelectualidade, nutrindo meu próprio ego, reencontrando minha vaidade e estabelecendo meus parâmetros de cara foda. Estou cultivando a visão de herói que me foi tirada, dando novo significado para o meu posicionar, para o meu falar, para o meu relacionar e para o meu bem-estar. Estou buscando um rumo para permanecer dentro da minha própria segurança, cuidando daquilo que já colhi. Estou confortável dentro do meu ódio, cultivando inúmeros motivos para estabelecer parâmetros de segurança. Estou seguro dentro da minha pessoalidade, aprendendo a sustentar todas as minhas peculiaridades. Se eu existo dentro de um mundo que tentou me limitar, escolho ter o poder de determinar aquilo que exporto para fora de mim.

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