DIAGNÓSTICO NAS MÃOS

By Tiago Ferreira - 25.10.23


Já se tornou comum ver vencer quem nem sequer lutou. Estou no lado da história que escuto a vitória de quem simplesmente surfou a onda. Enquanto eu afogava em mar aberto, teve quem nadava com bote salva vidas. E se eu tivesse conseguido me salvar, não sentiria tanto nojo da injustiça? Fiz injusta a minha própria história, mas validei as palavras que escrevi enquanto morria. É sozinho que costuro os problemas e retalho soluções que encontrei na criação de novos problemas. Arrumei aqui e baguncei lá, cobri aqui e de deixei descoberto aquilo que o perigo queria se apropriar.

Quem me viu tentando salvar a minha própria história desaprova meus métodos e condena meus momentos de fragilidade. Frágil. Aqui desse lado da história não existe espaço para ser frágil, para ser exposto, para sentar e contar uma história de uma vida regada por melancolias. Sussurra as tristezas, engole o choro, ergue a cabeça e ombros, finge que é mais um dia de vitória. A meta é fazer engolir garganta abaixo que agradecer também é um movimento válido. Agrade ao dia por ser um derrotado ou agradece ao dia por mais uma chance de continuar tentando? Não li as autoajuda que indicaram, não fiquei acordado enquanto eles dormiam e nem tive a chance de buscar um cuidado no colo de quem poderia ajudar a ressignificar o pesar do dia. 

Interpreta. Vive a personagem. Interpreta. Mal interpretado. Interpreta. Reprovado. Não sorrio para a convenção social, não me calo para a convenção social, não performo para a convenção social. Hoje me vejo na agonia dolorida a verdade sobre o que pensam de mim. Sozinho e mal encarado, sozinho e reprovado, sozinho e estagiário, sozinho e cada vez mais abandonado. Se eu tivesse expectado aceitação, teria me matado na primeira decepção. Morro diariamente como um ritual sagrada. Desde moleque eu flerto com a desistência, mas quem é educado por uma mulher preta não aprende muito sobre desistência. Eu poderia ser como um hit flopado, mas a harmonia da minha vida não chegou a ser harmônica. 

Estou reprovado. Sei onde errei. Fui humano uma única vez e eles aproveitaram para me amarrar na vilania da minha própria existência. Sei que não posso estar distanciado daquilo que escrevo e falo, mas, quando você tá com os diagnósticos nas mãos, você tem o direito de perder o chão. 

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