ESCRITA LIBERTÁRIA

By Tiago Ferreira - 20.11.23

Aqui estamos novamente: naquele momento em que acho que tudo que precisava ser dito e escrito, foi devidamente dito e escrito. Como posso ter essa história com a escrita e ainda ter o que falar? Parece muito, mas eu sei que o que escrevi não tenha sido suficiente em determinados momentos. Eu escrevi textos, poemas, escrevi roteiros de vídeos, eu escrevi fotografias e escrevi até mesmo histórias que eu sonhei. O Limoções não é inteiramente baseado na minha história de vida, mas é inteiramente baseado em histórias. Eu já cheguei a ficar preso naquilo que chamamos de bloqueio criativo, sem sequer conseguir formular uma linha, mas, no final das contas, meus dedos teclavam transpassando o bloqueio. Então temos um ponto: toda vez que acho que falei o que tinha para falar, transpasso essa inverdade.


A liberdade em escrever é algo que me apaixona, assim como a escrita libertária me projeta. Seja redigindo cartas de amor, seja produzindo um audiovisual, seja discutindo temas importantes, seja poetizando e seja como for, eu tenho uma verdade absoluta: construí um legado. É um imenso prazer olhar para o acervo desse projeto e poder erguer a minha cabeça e dizer que estamos transpassando anseios, exaustões, cansaços e permitindo o sentir em todas as suas formas. Para além daquilo que me faz uma pessoa minimamente satisfeita com o meu legado, são todos os contatos que recebi ao decorrer desses anos. Cara, percorrer o mundo e ouvir que uma publicação ajudou, confortou, revigorou e até mesmo curou me causa uma verdadeira paixão pelo pouco de vida que depositei aqui.

O texto abaixo foi recuperado da publicação de um projeto enorme que teve minha criatividade explorada em inúmeras formas no ano de 2020. Nele volto para as nossas analogias e resgato a árvore como uma promotora de alimento, de sombra, de vida. O Limoções é uma árvore. Independe do Tiago para existir atualmente. Mesmo que hoje eu deixasse de existir, o Limoções existiria com seu legado próprio, uma árvore centenária - com mais de 867 publicações, inclusive.

FELIZ LIMOÇÕES PARA VOCÊ.


Ao decorrer de todos esses anos como escritor já tive a chance de utilizar inúmeras analogias e infinitas metáforas. Por intermédio dessa plataforma fui capaz de descrever meus sentimentos, de transcrever os sentimentos de outrem e de criar histórias que jamais tive a chance de viver. Já me senti criativamente esgotado, já me vi sem o dom da palavra e já cheguei a cansar de criar. Mesmo quando tudo parecia dito, escrito, fotografado, filmado e publicado meu coração ainda tinha anseio por algo que eu não sabia definir, descrever ou identificar. Depois de certo tempo passei a me acostumar com a possibilidade de que sou cria da poesia e da arte, então deixei que todos os meus anseios, duvidas e exaustão percorressem cada centímetro do meu corpo. Me acostumei a sentir, a dizer, a ficar em silêncio e a gritar por tudo aquilo que vive dentro ou fora de mim.

A poesia me cultivou como uma árvore frutífera. Fui plantado diante da desesperança, germinei diante da descrença e cresci recebendo veneno como alimento. A poesia me cultivou em segredo, me ensinou a me manter em pé, a me fazer forte e a utilizar todos os recursos disponíveis para permanecer. Faltou adubo, faltou água, faltou luz do sol, mas fui cultivado para simplesmente permanecer. Já fui confundido com erva daninha, já fui podado, já fui praguejado, mas permaneci crescendo. Fui preparado para o inverno, para o outono, para o verão e para a primavera. Fui ensinado a aceitar as características de cada estação. A poesia me plantou diante da desesperança sabendo que eu não precisava de muito, me viu germinar diante da descrença convicta de que eu não seria jamais a aposta de alguém e me viu utilizar o veneno como meu alimento por saber que eu jamais seria contaminado pelo o horror.

Como uma árvore eu cresci. Desenvolvi raízes profundas e dei frutos. Passei pelo o que não esperava em pé, nem sempre firme e nem sempre forte, mas convicto. (PASSAREIO - LIMOÇÕES | 10/01/2020)

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