Já entendo como algo comum questionar minha presença em espaços, mas ainda não apreendi que outras pessoas também entendem como direito o questionar minha presença em determinados lugares. A gente percorre longos caminhos para ocupar aquilo que nos pertence, assim como percorremos trajetos longos para assimilar nossa própria consciência e memória. A maior parte do tempo estamos formulando processos sozinhes e em alguns momentos nos esforçando para trocar, para aprender com o outro, para doar e receber saberes que diferem daquilo que já temos como certezas. A vida é eu e nós, mas não existe o eu sem o nós. O que me traz para a primeira pergunta desse parágrafo: a quem pertence o direito de delimitar nosso espaço?
Se você, assim como eu, estiver recortado da sociedade por marcadores já deve saber que o poder de preencher locais não é algo exclusivo seu. Somos corpos marcados, mas não como super-heróis que merecem reconhecimento e destaque. Ao contrário da nossa luta diária por méritos próprios, temos quem decida em uma canetada, em um olhar, em uma palavra, em uma reunião ou em uma deliberação hegemônica o caminho a percorrer. Infelizmente, não podemos estar na posição de vítimas da história, pois temos o enfrentar como uma das metas das nossas vidas. Enfrentar aquilo que nos afronta, assim como afrontamos aquilo que nos limita. É um processo cotidiano ou algum evento pontual, mas vai acontecer com você, caso ainda não tenha acontecido. Hoje, depois de anos, ainda vejo meu espaço ser modificado e modulado sem meu consentimento. Aprendo a me calar, aprendo a confrontar e ainda aprendo a lidar com esse tipo de situação de acordo com a minha segurança psicológica, emocional, afetiva, além de ter que constantemente relembrar o fato de que essa delimitação é transitória. Viver nas mãos de outrem, mesmo que seja na universidade por exemplo, é algo que viola a nossa autonomia e abala nossa sanidade. Mesmo sabendo dos meus direitos e deveres, assim como entendendo meu espaço e o espaço de outrem, vai doer, arder, queimar e marcar.
Podemos seguir limitados, encarando quatro paredes num cubículo, porém nossas causas ainda significam o reconhecimento do espaço para além daquilo que tenta nos aprisionar. Tuyo cantou: "um adjetivo bom pra vida é louca". Então, depois de recortar nossa existência na sociedade, nomear nossos corpos, separar o que eles querem para nós daquilo que cultivamos como objetivo, retomamos o local no cubículo e relembramos que talvez seja válida a tratativa da dissimulação. Se não fere sua dignidade, dissimula. Se não te causa dores, dissimula. A vida é cheia de caminhos transitórios, mas tenho aprendido que eu dou meus próprios passos possuindo o poder das minhas próprias certezas.
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