RESENHA: ENSAIOS FOTOGRÁFICOS | MANOEL DE BARROS

By Tiago Ferreira - 10.11.23

Não me recordo com propriedade quando foi e como se deu meu contato com Manoel de Barros, mas sei que foi por meio de um poema do livro "Tratado geral das grandezas do ínfimo". O poema em questão mexe comigo até hoje, mas, infelizmente, não vamos resenhar sobre o livro de onde ele está locado. Para a poesia brasileira, Manoel de Barros é um grande nome. Premiado, já realizou trabalhos infantis e é conhecido por ter certa proximidade com neologismos e a uma relação íntima com a língua portuguesa.

"Ensaios Fotográficos", livro que será resenhado, foi publicado em 2021 pela editora Alfaguara - e se trata de uma edição especial. O livro traz imagens e documentos que retratam a vivência familiar e manuscritos de Barros que serviram de inspiração para a poesias, respectivamente. Manoel teve como seu forte a poesia, estando intimamente ligado aos signos da natureza - o que poderia ser justificado pela sua origem, pois o autor nasceu e chegou a viver em zona rural, numa fazenda da família. 

A proposta de "Ensaios Fotográficos" é a impressão fotográfica por meio da escrita. O autor utiliza a poesia para compor fotografias, então, diferente do que se espera, quase não existem imagens na obra. Os poemas, divididos em dois momentos constituem um trabalho rico em analogias relacionadas ao natural: a natureza. Barros descreve sobre aquilo que seus olhos viram, seus ouvidos ouviram e traz para as composições os cenários que teve a chance de admirar. Sempre venerando a natureza, encontramos um trabalho amarrado ao sinônimo de simplicidade, mas que se relaciona intrinsecamente com a complexidade de um registro fotográfico. 

Talvez essa seja a minha experiência como leitor, mas algo me chamou a atenção nas poesias. Barros usa muito a representação dos pássaros como detentores de inúmeras qualidades e habilidades, os colocando como um representação de dádiva, de força mágica. Ele utiliza, em alguns poemas, uma habilidade de questionamento que me pegou: você já imaginou o privilégio de ser uma árvore e um pássaro pousar em você? Esses animais, segundo o autor, sabem onde a vida está, sabem a direção da água, sabem que fruto comer e sabem resistir aos intemperes da natureza. 


Ao final da obra encontramos os documentos, alguns marcados como inéditos, e algumas referências onde Manoel de Barros esteve na bibliografia. Indico a leitura. Poesia cura - e não é de hoje que venho apontando isso aqui no Limoções. 

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