A ESCRITA MOVIMENTA MUNDOS

By Tiago Ferreira - 8.8.18


Quando escrevo não busco respostas e nem certezas. Escrever é um recurso utilizado por mim para movimentar o meu mundo quando ele parece imóvel. Assim que justifico a existência de mais de seiscentos escritos compostos por mim. As publicações que realizei em dezenas de plataformas sempre foram uma forma de buscar contato com quem compartilha praticamente as mesmas visões e sentimentos que eu. Minha escrita sempre falou por mim, então acreditei que ela também poderia falar por mais pessoas. E não é sobre se sentir representado. É sobre sentir-se acolhido. Esse é um dos efeitos da movimentação das palavras.

Nunca me prendi integralmente a uma estrutura textual, tanto que é difícil encaixar meus compostos em algumas delas. Minhas narrativas sempre foram construídas de maneira espontânea e baseadas em sentimentos reais. Mesmo que alguns dos sentimentos nunca tivessem sido sentidos por mim, eles foram captados pela minha capacidade de estar no lugar do outro. Quando publico uma nova composição sinto que é como se eu tivesse abrindo um caminho até cada interlocutor. As palavras - ainda mais aquelas que contam um história real - possuem o poder de libertar.

Quantas vezes me questionei sobre a necessidade de escrever. Eu já me perguntei sobre a importância de se contar uma história ou compartilhar um sentir. Já me peguei em dissertações filtradas. Em inspirações doloridas demais para serem compartilhadas e em sentimentos bons demais para serem escritos. Em suma, sempre me questionei sobre o efeito que meus sentimentos possuem em mim e em quem chega para ler o que escrevi. Sei que em uma situação ruim - quando sou alcançado pela inspiração - escreverei sobre algo ruim, e temo que esse algo ruim possa ser tóxico para um determinado leitor. Sempre fui na contramão nesse sentido. Os escritores e poetas contemporâneos buscam apresentar inspirações fundadas no amor, ou na ilusão dele. De certa forma não costumo romantizar as desgraças e tragédias da minha vida. Elas chegam aos meus escritos de maneira pura e bem explicita. Tanto que minha atenção se volta ao escrito que traz esses sentimentos mórbidos em sua essência por saber o que isso pode provocar em quem lê. Essa é uma das possibilidades da escrita. Algo pesado pode se transformar em uma espécie de consolo ou em um gatilho para a destruição.

Mesmo que o nascimento de um novo texto esteja relacionado a um novo acontecimento, constantemente visito o meu passado para escrever sobre o que foi sentido em determinados momentos. A escrita permite a minha aproximação com outras vidas, outras pessoas e outros lugares. Nunca me apeguei ao detalhe de ter que falar por mim ou por alguém, mas essa possibilidade se apresentou de maneira intensa com o nascimento do Limoções. Recebo constantemente comentários de pessoas que foram alcançadas pelos sentidos e sentimentos expostos aqui. O pessoal e o coletivo sempre me pareceram mais como uma tentativa de rotular o que escrevo, tanto que não me importo se falo por mim, por uma ou duas pessoas. A individualização do sentir sempre pareceu um problema para mim. As vezes parecem ter esquecido que nem tudo é sobre elas. O nós ainda vive e na escrita ele está mais presente do que muitos podem imaginar. A movimentação que as palavras causam por intermédio da leitura e da interpretação subjetiva de cada um é o poder que a literatura possui sobre o "reconstruir o nós".

A escrita chegou até mim com o objetivo de despertar, descobrir e reconstruir. É esse movimento que me faz estar no centro de cada sentido de interpretação. Eu sou o vivenciador e o captador de emoções que escreve sobre elas. Dentro do coletivo sou aquele que teve coragem de falar e, em algumas circunstancias, falar por um nicho especifico de pessoas.

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