A MORTE É O COMBUSTÍVEL

By Tiago Ferreira - 7.8.18


O tempo que decorre após a publicação de um texto ou logo após a composição de uma poesia é o que determina o que vive ou o que morre em mim. Sempre defini os significados de cada composto escrito um marco perante a cada passo da minha vida. As palavras que passam a viver fora da minha cabeça trazem o peso da morte.

O Tiago que escreveu alguns títulos de anos atrás não vive mais e definitivamente foi morto pela construção das suas próprias palavras. O sentir que sempre me conduz ao ensejo da escrita é norteado pela ansiedade de superação, resolução. Mesmo me considerando o portador de palavras ideal para escrever discursos longos, já tive que transformar minhas expectativas e dores em lirismo somente para conseguir enxergar o positivo da dor em situações em que não existia nada de construtivo. Tão barata quanto a minha tentativa assídua de não permitir que os sentimentos - que considero como meus inimigos - me sucumbissem é o valor de cada Tiago morto ao decorrer do caminho.

Meu eu-lirico e eu nunca fomos um só. E até aqui não tentei ser um só perante a escrita. Sempre me fez bem seguir alternando entre o positivo e o negativo, o romântico e não romântico e - mesmo que eu não consiga definir um estilo de escrita - sempre foi possível passear por todos os extremos dos sentimentos que me encontram. A morte sempre foi o ponto de partida para as minhas inspirações e a dor ainda é o combustível que gera cada palavra que discorro em um texto. O que é ruim vive em mim e em cada faceta que nasce em mim. Como eu não me sinto morto se vivo flertando com a morte? Não a vejo com maus olhos. Depois que originalmente a vi cara a cara comecei a aprender a conviver com ela. Essa sensação de estar morrendo todos os dias ou todas as vezes que escrevo é o que realmente me ajuda a deixar fora de mim o que não me pertence.

Dentro da escrita é comum que algumas pessoas se apropriem de sentimentos não delas para escrever sobre elas. Nunca fui por esse caminho, tanto que minhas composições não variam muito de sentido. Ora elas vestem a esperança e ora elas vestem a desesperança. Nunca saí desse ciclo por reconhecer o que é real em mim e por ter a plena certeza de que convivo bem com que me faz mal. Eu não me tornei o mal por justamente permitir que ele se materializasse em minhas palavras de uma forma que valesse a pena. Morrer no meu mundo poético - aquele que eu crio o lirismo - sempre significou que aprendi a ter coragem de me desconstruir. Mesmo que o que me conduza até a escrita seja a dor, não posso resumir o meu trajeto com as palavras como algo ruim. Todo eu-lirico que viveu em mim ainda vive fora de mim.

Não matei a esperança quando não acreditei nela e muito menos me impedi de estar vivo por não dialogar mais com o Tiago que escreveu aquele título que não me representa mais. O tempo que passou desde que eu alternei de caminho é o que realmente permite a vida ao meu lirismo.


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