GRANDE PEQUENITUDE

By Tiago Ferreira - 19.8.18

"[...]Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo..."

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

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Crescer parece sempre permanecer de mãos dadas com o diminuir. Quanto mais sabemos, mais pequenos somos. Quanto mais certezas trazemos, mais incertezas conhecemos. Sou tão pequeno quanto ontem e não quero ser tão grande quanto o amanhã. Me faz bem caber dentro da minha pequenitude portando a minha grandeza. Tudo que me constrói e tudo que justifica a minha caminhada é do tamanho ideal para caber em mim. O que me transborda faz parte da vida. O que me sobra é levado pela vida. Nada mais importa quando se descobre o valor da sua pequenitude. Nada mais parece importante diante da consciência e aceitação do valor que recebe as grandezas apresentadas na nossa caminhada.

A luz do sol e o marrom da terra são maiores que eu. O azul do céu e o verde das folhas parecem mais importantes que eu. Não preciso ser mais que a vida. Não é necessário ter mais que a chance de fazer parte da vida. O que falta ou o que desejo? Não importa. O que tem importado são as cores que me alcançaram. As cores que me encheram de vida. O colorir do tempo e o desenhar do espaço justificam o sorriso ou a lágrima. O vento secou o pranto e o olhar voltou-se para dentro, então foi possível conseguir dar ritmo aos passos. É devagar que nos encontramos. É no simples que vemos o óbvio. É andando que torna-se possível colecionar diversas flores. Busquei respostas nos espinhos que machucavam os meus pés e me esqueci que a dor nos torna humanos. Aceitei o andar em meio aos espinhos e foi na loucura da fraqueza que descobri ser possível colorir as minha inquietações com as flores que fui colecionando ao decorrer do caminho.

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quem me trouxe até aqui?
os meus pés ou minha alma?
a realidade é um sonho
ou o sonho é a realidade?
quem define o tempo
ou constrói a morada?

ainda sei tão pouco
e parece que encolhi
enquanto crescia
tudo em mim parece menor
tão pequeno quanto
as certezas que me norteiam

o tempo foi longo
ou foi pouco o tempo?
pelejar na subida
buscar uma nova estrada
encontrar a maravilha
e ir na direção contrária

quem define o espaço?
e quem estabeleceu o meio?
onde foi parar o inicio?
daqui é tudo nítido e claro
até o desconhecido parece
ter sido vivido

o tempo escreveu
apagou e reescreveu
eu somente vivi o roteiro
ou improvisei no palco
o tempo desenhou
coloriu e definiu os traços

no fundo nada parece diferente
até mesmo o novo é conhecido
e o renovo é consequência
dos passos dados em direção
ao alto da maravilha

viver foi tão pouco
sentir a vida escorrer foi pouco
sentir o renovo foi pouco
chorar foi pouco
regar as flores foi pouco

em tempos de certezas
aprendemos a olhar
o que antes era evitado

está tudo mais que respondido:
a vida não pode nos dar
mais que incertezas.


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Os meus passos continuam incertos. Minhas dores ainda doem. Mas hoje eu decido o meu caminho e tão pequeno se tornou o medo do que foi vivido.


Hey,

Gostou dessas fotos e dessa poesia? Então posso te indicar um trabalho que vai te tocar tanto quanto esse? "E A PRIMAVERA ERA DEPOIS DE AMANHÃ" foi publicado aqui no Limoções em novembro de 2015 e sua composição visual foi a inspiração para as fotos desse post. As fotografias de "E A PRIMAVERA..." foram registradas por Olívia Vieira - que também assina as fotografias desse post. Essas fotografias e as de 2015 estão conectadas por diversos motivos, mas, talvez o mais importante, o saudosismo de poder trabalhar com OV novamente enche essas fotografias de amor. Vem ver os trabalhos dela para o Limoções clicando aqui.

"Grande Pequenitude" é o olhar ao passado e ao futuro carregado de tranquilidade. É a compreensão do significado de viver. É a poesia que guia e coordena a vida. E você, já teve que enfrentar o seu passado ou já temeu o seu futuro? Interaja comigo deixando o seu comentário e me dê a chance de construir um Limoções cada vez mais plural. 👊👊❤

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