Se perceber como ser humano nos dias atuais é exercer a tarefa constante de compreender a nossa própria humanidade e aprender a delimitar espaços em razão da humanidade do outro. Estamos todos os dias aprendendo, mas não lembramos todos os dias que alguns de nossos valores, limites, crenças e regras não podem ser transgredidos. Memória. Volto a conceituar a memória como instrumento importante de validação de consciência. Vamos definir:
memória¹ - substantivo feminino
1. faculdade de conservar e lembrar estados de consciência passados e tudo quanto se ache associado aos mesmos.
3. aquilo que ocorre ao espírito como resultado de experiências já vividas; lembrança, reminiscência.
13. função geral que consiste em reviver ou restabelecer experiências passadas com maior ou menor consciência de que a experiência do momento presente é um ato de revivescimento.
14. termo geral e global que designa as possibilidades, as condições e os limites da fixação da experiência, retenção, reconhecimento e evocação.
Cada um de nós incide a vida de acordo com aquilo que temos disponível, mas também traçamos planos, almejamos metas e colecionamos sonhos. Tudo que parece potencial vai acontecendo enquanto aquilo que é inábil se desenvolve. E seguimos caminhando como se a potencialidade fosse uma consequência da nossa real existência - é isso que eu acredito. A consciência que a memória nos traz, sobre a luz daquilo que vivemos, nos capacita a não tolerar aquilo que não deve ser tolerável. A gente não nasce sabendo de limites e, geralmente, somos condicionados a replicar, a reproduzir - esse é o nosso primeiro aprendizado: reproduzir.
Chegamos na parte que desfazemos o primeiro ensinamento, ou atribuímos outro significado. E se a vida apresenta testes, provocações e desconfortos para que sejamos melhores que ontem? Eu, no meu local de existência, tenho uma única certeza: a vida não deveria doer, mas usar a partilha para ensinar e moldar quem quer que seja. Se a gente aceita a dor para acreditar que estamos nos tornando fortes, a gente vai se aprisionando no passado. O que é aceitável é uma lição e não um trauma. Não podemos esquecer das injustiças da vida. Podemos ser vitimas ou podemos escolher não tomar o lugar de vitimas, mas aquilo que ferir nossa dignidade tem que ser exterminado. Essa é a culminância da história.