29

By Tiago Ferreira - 10.1.25



A temática é alegria. Uma mistura de festa com algumas felicitações. Não é um dia qualquer, pelo menos não precisa ser. Chegamos na parte onde eu assumo que estou engajado na tarefa de me autoperdoar. Agora que trabalhei bastante a análise de perdoar, concluindo que o perdão também tem seus critérios, podendo ser unilateral. Já pedi perdão o suficiente para satisfazer mais de 1 dúzia de pessoas. Já estive vulnerável o suficiente para reconhecer erros meus e até mesmo assumir equívocos que até agora não tenho certeza de que me pertenciam. Já me justifiquei o bastante para receber empatia, carinho, afeto e, por fim, perdão. Eu precisei ser alertado sobre o olhar para mim - coisa que se perdeu dentro dos processos psicodinâmicos de sintomas e fobias sociais. Todos mereciam desculpas por eu estar doente e por manifestar sintomas. Essa história de eu ter características questionadas, e atitudes adjetivadas de modo negativo, não é um processo novo. Chego sem culpar, pois não cabe a culpa nos ideais de progresso, de saúde e de afeto.

"[...]22 anos de “a culpa é toda sua” - Que a culpa seja todinha minha por não ter desistido, por ter lutado, aprendido, apreendido, perseverado e alcançado. Que todo o mérito seja meu por ter me sentido incompreendido, sozinho, angustiado, triste, deprimido e apavorado. Que a culpa seja toda minha por ter sobrevivido aos meus temores, por não ter me entregue aos meus demônios e por ter preferido acreditar no viver. Que me culpem por ter errado, por ter dito palavras impensadas, por ter magoado, por ter sido egoísta e por ter simplesmente existido. Colocar sobre mim a verdade que é ser o culpado por viver a minha vida nunca me doeu. Então que todos os meus passos até aqui sejam creditados somente a mim..." - CHEGUEI AOS MEUS 22 | 07/04/2018


Não, não é um texto de apontamentos e muito menos se trata de um compêndio de culpabilização de um monte de pessoas que transitaram pela minha história. Na verdade, a gente costuma a pensar a data de aniversário como uma oportunidade para relembrar uma vida de acontecimentos. Na contramão, eu escolho discorrer e recordar dos últimos dois anos que venci na garra. Doente e aprendendo sobre as doenças. Polifarmácia. Lendo bulas. Fazendo exames. Discutindo com o médico ou com a psicóloga. Nos últimos dois anos fui paciente e profissional da saúde. Uma característica que hoje sustento com muito louvor é o poder da minha inteligência, do meu saber, da minha posição profissional cravada pela perspicácia de um conhecimento plural e que serviu para ponderar a respeito do meu próprio tratamento. Nesse momento, especificamente nessa data, reflito muito sobre como a necessidade de cultivar características únicas da minha área profissional serviu para sustentar alguns pilares da minha vida.

Hoje eu quero dizer que duas das minhas cores preferidas são verde musgo e verde erva doce. Também quero compartilhar que ainda pretendo transformar o Limoções em um livro - de publicação independente. Também quero compartilhar que fui deixado por algumas pessoas e que algumas delas eu considero covardes. Estou aqui, nesse exato momento, reformulando meu local na sociedade. Para retomar esses locais, eu tenho que recapitular algumas coisas simples. Eu gosto de bolo de maçã - mais especificamente aquele que eu faço. Eu sou profissional da saúde formado técnico em enfermagem, com bacharel em enfermagem e pós-graduando em saúde mental. Sou um profissional da saúde doente e afastado das atividades laborais, por enquanto. Sou metódico. Eu costumava escrever bastante aqui no Limoções, mas a vida não me ajudou a viver apenas de escrita, então o trabalho e a depressão me fizeram afastar um pouco desse processo tão importante: a tradução dos sentires em palavras. Eu acho que nasci para ser professor - é sério! Sou seletivo, pois não sei me comunicar direito. A maior parte do meu tempo é questionando coisas e sendo questionado. 

Humanidade. Hoje eu levanto essa bandeira. Não pode existir qualquer coisa que me faça duvidar ou desacreditar de tudo de humano que existe em mim. Eu quero usar essa data para dizer que a gente jamais pode culpabilizar um doente, um vulnerável, um incapaz ou qualquer um que ainda esteja na busca de suas próprias respostas. Aos que ainda estão aprendendo, assim como eu, a escuta precisa ser qualificada e sem qualquer interferência daquilo que você acredita ou defende. Hoje eu também compartilho que não me cabe mais a tarefa de justificar minhas reações, minhas reatividades. Não sou mais obrigado a apontar quando foi sintoma ou quando foi Tiago. A partir daqui eu compreendo a junção de tudo que sou e me perdoo por não ter sido firme na tarefa de me proteger da necessidade que outrem possui em subverter o meu local de existência. Estou humano. Estou.

29.


  • Compartilhe:

VEJA TAMBÉM ESSES DAQUI

0 comentários