A primeira coisa que precisamos definir a respeito da minha orientação sexual é: ela diz a respeito a mim. Precisamos de maneira urgente deixar de especular e/ou impor nossas projeções e vontades a respeito da sexualidade do outro. A segunda coisa que considero importante definir na introdução da nossa conversa é: assexualidade é uma orientação sexual assim como a heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e etc. A terceira e última coisa que preciso dizer para iniciarmos esse diálogo de maneira segura é: ninguém tem o direito de questionar e/ou se sentir na posição de validador da orientação sexual do outro. Então, se o coleguinha diz que é, o coleguinha é aquilo que ele diz que é. Após definirmos alguns desses pontos importantes, posso iniciar nosso diálogo de hoje a respeito da minha orientação sexual com o objetivo de descrever brevemente como foi levantar essa bandeira e como é sustentá-la. Não pretendo justificar minha orientação sexual e muito menos validá-la, mas, como um direito que me é garantido, pretendo contribuir para a construção da pluralidade de maneira a fomentar a diversidade e representatividade.
LGBTQIA+
Sim, estou inserido numa comunidade com uma gama de possibilidades, com inúmeras representatividades e vasta em diversidade. A assexualidade é uma orientação sexual e é representada no espectro da comunidade LGBTQIA+ pela letra A. Mesmo estando dentro de uma comunidade, preciso dizer que não conheço pessoas com a mesma orientação sexual que a minha, então, com responsabilidade e noção, discorro esse texto com base nas minhas experienciações e leituras a respeito. Ainda no sentido da representatividade, também defino essa palavra - que sem sombra de dúvidas é uma ferramenta importante de diálogo - como sinônimo de consolidação de certezas e construção de segurança que, no meu caso, ainda está se constituindo e vencendo o sentimento de solidão que a ausência de sua prática ainda me causa. Não me sinto inteiramente representado no grupo em que teoricamente estou inserido, mas esse deve ser um tópico para uma outra conversa. O fato que gostaria de chamar a atenção e esclarecer de uma vez por todas é: eu sou LGBTQIA+.
COMO FOI?
Se considerarmos a natureza de cada um, a famigerada pergunta sobre a orientação sexual alheia jamais deveria ser feita. "Como foi descobrir que é assexual?" - A única resposta que atualmente consigo dar é: "como foi descobrir a heterossexualidade ou a sua bissexualidade?" - Para além das curiosidades e/ou confusões a respeito da minha assexualidade, tomei consciência sobre isso um pouco tarde. Para ser o que sou hoje, precisei me ver e me sentir com o que projetavam e cobravam de mim. Sei, por exemplo, que essas projeções e cobranças fazem parte da vida de uma galera que vive as dificuldades de ser LGBTQIA+ e que tudo isso é capaz de provocar sentimentos danosos o suficiente para marcar nossas vidas. Na minha história, o "como foi" já me fez questionar dezenas de vezes sobre certezas que carregava e já me conduziu a agir sem ter vontade, coragem, ânimo, atração e necessidade a ponto de me ver sucumbir dentro daquilo que esperavam e/ou queriam de mim. Posso ter nascido assexual, mas a consciência a respeito disso é recente. Se eu ficasse aqui discorrendo a respeito de todas as situações tóxicas e abusivas que vivenciei antes de ter o real controle da minha natureza, perderíamos a importância desse texto. Então, para finalizarmos de uma vez por todas com essa curiosidade e especulação, posso confirmar uma coisa para você: eu nasci assim.
ASSEXUALIDADE
Assim que me situei como homem preto e assexual, levantei minha cabeça para sustentar a minha causa e minhas certezas. Sustentar é a palavra certa para descrever o Tiago que foi questionado por amigos e invalidado inúmeras vezes dentro do seu lugar de fala. Não tenho uma vasta rede de amizades, mas confiava no respeito e na empatia de determinadas pessoas para me acolherem em uma fase da minha vida em que assumo coragem para viabilizar e externalizar as minhas próprias certezas. Como homem preto, que já significa uma gama imensa de dificuldades e obstáculos de vida, não era do meu interesse me expor sem qualquer necessidade como uma pessoa assexual, como alguém LGBTQIA+, sem realmente ter certeza de que se tratava da minha vida, da minha natureza de ser. Depois da rejeição e dos questionamentos em torno da minha declaração, comecei a compreender os meandros que pairam a assexualidade como orientação sexual e fui capaz de perceber que a invisibilidade havia afastado a letra A do diálogo da diversidade. Sendo assim, para nos sentirmos seguros e avançar essa dialógica, trago uma breve definição da assexualidade: