
O problema sempre foi ser muito analítico - pelo menos até aqui. Hoje eu procuro não analisar aquilo que não me toca ou que não é meu. Entretanto, não existe imparcialidade para a minha existência - independentemente do local que eu ocupo. O deslocamento e o sentimento de pequenitude se desfaz quando preciso me fazer grande e firme diante daquilo que me fere ou fere os meus. Esse movimento, muitas vezes automático, me coloca na transição entre ser deslocado e pequenino, mas firme diante das minhas crenças e grande diante das minhas certezas.
A possibilidade de estar isolado, sozinho, muitas vezes foi apontada como uma consequência do meu próprio comportamento. Um comportamento levado para a análise. Um comportamento definido. Desenhado como um comportamento seletivo, autoritário, inflexível, severo, rude, rígido, exigente e - por fim - um comportamento de pessoa branca. Chegamos num trecho que, provavelmente, fará com que alguns desistam da leitura ou que apontem uma falha de discurso relacionada ao parágrafo anterior. Entretanto, a conclusão da análise do meu comportamento - nesse exato momento - já está fechada. Comportamento de pessoa branca: chegar em espaços, ocupar espaços, ser lida pelo olhar de credibilidade - diferentemente de uma pessoa que está atravessada por um marcador racial. O uso da palavra comportamento em excesso é proposital - não foi uma falta de sinonímia.
“Qualquer atividade de um organismo que possa ser observada, registrada e medida, seja ela manifesta (visível) ou encoberta (mental), como andar, falar, pensar, sentir, reagir a estímulos, entre outros.”— MARTINS, J. C.; BILSKY, E. Psicologia: uma introdução. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
Esse texto está em construção desde que ocupei um local de pertencimento. Para que eu conseguisse finalizar essa narrativa - iniciada com um parágrafo que sustenta quem sou hoje - tive que concluir o processo violento de ocupação, de realização pessoal e de retomada de fragmentos de sonhos. Esse processo envolveu bastante coisa. Esse processo envolveu o aprender sobre como ocupar, como se apresentar e como se desenvolver em locais e como se relacionar com pessoas que não me viram como outra pessoa (e não vão ver), mas como algo. Eu quero chamar a atenção para a objetificação do meu corpo e o uso recorrente de adjetivos para destituir, descredibilizar, desencorajar e me colocar no local "correto" dentro daquilo que chamamos de paquito narcísico da branquitude.