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"O Perigo de Uma História Única" - Chimamanda | Companhia das Letras, 2019. |
"[...]A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única história... (pág. 26)"
Abrir a resenha desse livro com esse trecho é algo que me atravessa de maneiras que tenho dificuldades de descrever. A gente carrega tanto viés, tantas impressões e tantas resistências que - por vezes - não percebemos certas atitudes do inconsciente (não, não vou passar pano para ninguém e para nada). No contexto contemporâneo, os estereótipos são constantemente questionados, mitigados e/ou - quando falhamos como seres humanos - utilizados como violência. A reflexão de Chimamanda é pertinente ao que se refere ao conceito de estereotipar pela perspectiva de inviabilização das narrativas das histórias. Uma história tem início, meio e fim. Histórias são contadas e disseminadas por olhares, vieses e com base em leituras estereotipadas. Quase sempre, as histórias são contados por seus autores - e isso é uma abordagem tratada na obra. É comum que fulano dissemine suas percepções, rejeições e/ou não identificações com a história incompleta e unilateral. E qual é a consequência disso? Qual é o perigo disso?
"[...] Sempre senti que é impossível se envolver direito com um lugar ou uma pessoa sem se envolver com todas as histórias daquele lugar ou pessoa. A consequência da história única é esta: Torna difícil o reconhecimento da nossa humanidade em comum. Enfatiza como somos diferentes, e não como somos parecidos (págs. 27-28)"
História. Uma palavra que tem como semelhantes: mentira, fraude, conto, fraude, fuxico invenção e tantas outras similaridades. Conhecer ou contar uma história é fazer com que algo não seja esquecido, assim como possibilita fazer com que algo e/ou alguém seja conhecido, reconhecido ou descrito. As histórias nunca são únicas quando falamos de pessoas e lugares. Pessoas que ocupam espaços e se relacionam com outras pessoas possuem poder para contar histórias, para falar, para colocar narrativas de acordo com suas vontades. História está condicionada ao poder - que não nos esqueçamos disso. Quem conta a história tem duas possibilidades: fraudar ou empoderar. Chimamanda nos traz luz em sua obra. Para tanto, finalizo com os trechos:
"[...] As histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias foram usadas para espoliar e caluniar, mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar. Elas podem despedaçar a dignidade de um povo, mas também podem reparar essa dignidade despedaçada (pág. 32)"
"[...] O poder é a habilidade não apenas de contar a história de outra pessoa, mas de fazer que ela seja sua história definitiva. O poeta palestino Mourid Barghouti escreveu que, se você quiser espoliar um povo, a maneira mais simples é contar a história dele e começar com "em segundo lugar". Comece a história com as flechas dos indígenas americanos, e não com a chegada dos britânicos, e a história será completamente diferente. Comece a história com o fracasso do Estado africano, e não com a criação colonial do Estado africano, e a história será completamente diferente (pág. 24)"
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