O AMOR É O SEGREDO DE TUDO

By Tiago Ferreira - 7.8.23


Ainda é válida a tentativa de cultivo ao amor. Mesmo que pareça que estamos na contramão, é importante investir nas possibilidades, insistir nas potencialidades, perseverar para que existam meia dúzias de expectativas capazes de serem viabilizadas como ferramentas de diálogos. Não precisa ter medo da rejeição, não precisa temer a exclusão, não precisa boicotar o afeto e muito menos se sentir culpado por amar. O amor é quase que uma paleta de cores. Cores que quando se misturam convergem para uma única cor. Cores que colorem independe da proposta. Cores que se complementam.

"[...]Então, será tudo em vão? Banal? Sem razão?
Seria, sim, seria se não fosse o amor
O amor cuida com carinho, respira o outro, cria o elo
No vínculo de todas as cores, dizem que o amor é amarelo
É certo na incerteza
Socorro no meio da correnteza... (EMICIDA, 2020)"

A quem amamos? Essa pergunta nos remete ao "quem merece?" - ou pelo menos poderia remeter. Mas o ponto é que sinto que, pelo menos no meu caso, já amo o suficiente tudo que tenho a ponto de questionar até mesmo minha performance diante do amor. Sei que é uma via de mão dupla, mas costumo pensar nas minhas próprias subjetividades para alinhar determinadas expectativas. Com certeza você deve ter ouvido questionamentos a respeito do seu modo de demonstrar afeto - e não estou falando de atravessamentos violentos de invalidação - que serviram para ponderar a respeito das expectativas que outrem nutre a seu respeito. Estar dentro do espectro amar é considerar o que pensa e o que sente, tendo como possibilidade fazer o mesmo com aquilo que nos cerca e/ou com aqueles que nos rodeiam, como uma vasta gama de potencialidade. De todo modo, também considero importante vislumbrarmos o amor como uma resposta, sendo altamente suscetível a ocupar um espaço dentro de ações e situações que exijam reações imediatas ou a longo prazo. Por tanto, além de considerar o amor como um sentimento, precisamos colocá-lo no seu lugar de identificação, de reação, de respostas, de construção e de fomento para outros sentimentos.

"[...] Tão simples como um grão de areia
Confunde os poderosos a cada momento
Amor é decisão, atitude
Muito mais que sentimento
Alento, fogueira, amanhecer
O amor perdoa o imperdoável
Resgata dignidade do ser
É espiritual
Tão carnal quanto angelical
Não tá no dogma, ou preso numa religião
É tão antigo quanto a eternidade
Amor é espiritualidade
Latente, potente, preto, poesia
Um ombro na noite quieta
Um colo para começar o dia... (EMICIDA, 2020)"

A quem amamos? Primeiro amamos aquilo que nos rodeou enquanto crianças. Amamos aqueles que estiveram conosco no primeiro passo, que ouviram nossa primeira palavra, que reagiram quando aprendemos a ler e a escrever e que nos deixavam na escola quando crianças. Primeiro amamos o cachorro, um livro específico, amamos uma série, amamos determinado álbum de músicas e amamos a companhia de alguém. Por fim, aprendemos - ou pelo menos deveríamos aprender - sobre o autoamor. Não sei ao certo quando iniciei as minhas investidas por amar a minha autoimagem, me proporcionando momentos de cuidado, de autorregulação e de afeto, mas sei que isso implicou em alterações importantes do meu interagir diante daquilo que me cerca. Não me amo na totalidade como amo o meu cachorro incondicionalmente. Não estou em estado de autorregulação constante, assim como estou o tempo todo preocupado com a maneira como reajo ao meio. O autoamor, assim como o puro amor, tem suas próprias limitações, mas permanece sempre em conformidade com as adaptações necessárias para a perpetuação de sua importância.

"[...] Filho, abrace sua mãe
Pai, perdoe seu filho
Pais é reparação, fruto de paz
Paz não se constrói com tiro
Mas eu o miro, de frente, na minha fragilidade
Eu não tenho a bolha da proteção
Queria guardar tudo que amo
No castelo da minha imaginação
Mas eu vejo a vida passar num instante
Será tempo o bastante que tenho para viver?... (EMICIDA, 2020)"

Amamos aquilo que não somos e nos inspiramos diante daquilo que desencontra nossas próprias características. O amor não encolhe diante das diferenças, mas acolhe tudo aquilo que aparenta ser forasteiro.

"[...]Eu não sei, eu não posso saber
Mas enquanto houver amor
Eu mudarei o curso da vida
Farei um altar para comunhão
Nele eu serei um com o mundo
Até ver o ubuntu da emancipação
Porque eu descobri o segredo que me faz humano
Já não está mais perdido o elo
O amor é o segredo de tudo
E eu pinto tudo em amarelo."

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EMICIDA. Principia. Álbum: AmarElo. Disponível: Spotify. 2020. 

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