ADJETIVO: ARROGANTE

By Tiago Ferreira - 23.2.25

"Me vi na parte que, de longe, a dor vira arte
E meu passo em falso ganha aplauso
De longe enganei desejos, de perto espantei vários, tudo em mim é grande
Eu ajoelho para que aviões passem
Eu levanto para que as nuvens andem
Eu afundo pra que os mares se acalmem
Me retiro pra que a Lua brilhe" - Rico Dalasam


Grande e complicado de descrever. Quando meu sentir conseguiu atingir a altura de todos os sentires que eu conhecia, o meu comportamento se alterou. Fui tentando dar espaço para a manifestação daquilo que se faz essencial e que não me pertence, mas não me curvei mais para ficar na altura daquilo que eu não compreendia e não tinha certeza se me pertencia. Sou grande. O que sinto é grande. Como penso, como falo e como me exponho ao mundo é uma tarefa que precisa de bastante regulação. Penso que sempre fui grande e haviam me condicionado a permanecer pequenino. E a grandeza que menciono pode - e é - descrita como arrogância. Temos mais um adjetivo utilizado para me definir: arrogante. Na natureza de quem sou, juntando tudo de mim que se construiu e aprendeu, permaneço numa única posição: assertividade. A palavra assertividade poderia ser o adjetivo utilizado para definir a minha grandeza, mas, por um atravessamento de cor, de orientação sexual e posicionamentos, não posso ser considerado assertivo. 

"Arrogante expressa uma característica negativa de um indivíduo que carece de humildade, que se sente superior aos outros. Ser arrogante significa ser altivo, prepotente, ter a convicção que é expert em vários assuntos e, por isso, não ter interesse em ouvir outras opiniões." (www)

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"A palavra assertividade deriva de "asserto", que significa uma proposição decisiva. Uma pessoa que demonstra assertividade é autoconfiante que não tem dificuldades em expressar a sua opinião.
Assertividade é uma competência emocional que determina que um indivíduo consegue tomar uma posição clara, ou seja, não fica "em cima do muro". Uma pessoa assertiva afirma o seu eu e a sua autoestima, demonstra segurança e sabe o que quer e qual alvo pretende alcançar." (www)


Sabendo do meu lugar, dos meus locais de domínio - sejam eles profissionais, emocionais ou psicológicos - existo para aprender, para desfazer saberes e reconstruir saberes, para me mudar e transmutar, para estar certo daquilo que sou, acredito e defendo. A grandeza de alguém não deve ser medida, assim como não deve causar medo ou incômodos. Desconfortáveis sempre estão aqueles que me ouvem. O tom da minha voz é um problema. Posso ser cordial, posso ser educado, posso ser culto e respeitoso, mas o tom da minha voz - aliado às características de mim - causam repulsa. Eu levei um tempo para compreender que consigo me comunicar claramente, mas não depende de mim a recepção e interpretação daquilo que comunico. Faz um tempo que não absorvo mais determinados apontamentos, mas, quando sinalizam que fui adjetivado negativamente, ainda me dou o trabalho de fazer uma retratação. Eu poderia me sentir humilhado, ter meu ego afetado, mas a leitura daquilo que sou é subjetiva. Nunca, jamais, me desculparei pela existência de quem sou, mas, no quesito comunicação, compreendo que é uma questão bilateral. Recentemente, um dos meus alunos apontou:

"Professor, o senhor é direto. Isso não é uma coisa ruim."

Direto. Sempre claro. Não gosto de deixar espaços para o imaginário de outrem confabular a respeito daquilo que estou transmitindo, mas reconheço o direito de cada um em interpretar da maneira que é possível, que lhe cabe. Volto a falar sobre a grandeza. Meu aluno foi tão grande quanto eu. Eu estou rodeado pelos adjetivos negativos - eles até determinaram ações e interferiram na escrita da minha história. Hoje, sinceramente, eu consigo me adjetivar. 


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